sábado, 30 de março de 2013

TODOS OS DIAS DE ONTEM: DE NEWTON EMEDIATO FILHO


Quando em 2004 publicou seu livro de estreia Um carro de bois que transportava logos (Edição do Autor), apesar de ser uma grande obra, notava-se uma forte influência do escritor Guimarães Rosa em sua obra e isso é normal num primeiro livro. Agora nos chega às mãos Todos os dias de ontem (Usina de Livros), onde se percebe que seu autor desprendeu-se de influências e tomou seu próprio rumo, num livro muito bem escrito, aproximando-se da perfeição literária.
Neste seu segundo livro Todos os Dias de Ontem, Newton Emediato Filho reúne vinte contos inéditos da melhor qualidade. Sendo um projeto premiado pelo Programa + Cultura Bacia do Rio São Francisco/ FUNARTE e Ministério da Cultura, o trabalho coleta histórias de tradição oral contadas na região Centro-Sul de Minas: Alto do Paraopeba; levando em conta a alteridade.
Todos os Dias de Ontem fala de amor e é antes de tudo, um livro poético a começar pelo título, assim como em vários parágrafos do texto em si, como no encerramento do segundo conto, em que diz: “Lina nunca mais teve notícias de Luna. Estas são lembranças que evaporam-se no ar.” Nota-se as metáforas e imagens que só um grande escritor imaginarias para suas escritas. Aliás, é no fechamento dos contos que percebemos sempre uma surpresa e é quando o autor vai aos extremos de sua capacidade criadora, deixando-nos surpreendidos.  Neste livro, podemos sentir que seus personagens, mesmo matutos, tem muitas vezes poesia em seu linguajar, como no conto “Retumbação” onde o vaqueiro Sim fala para Salazarte: “- O amor é como uma primavera deve ser apreciada direito, senão o sujeito não vai aproveitar o mais bonito da vida.” Uma das características mais impressionantes do livro são justamente os diálogos bastante originais, assim como os nomes de seus personagens.
Segundo palavras do autor, ele sentiu-se motivado a escrever este livro quando esteve em contato com várias comunidades remanescentes, compostas por quilombos e fazendas tradicionais, onde interagiu com vários informantes que habitam estas regiões e ali realizou-se o que se chama na Antropologia de Observação Participante. Ao ouvir estas pessoas, registrou em forma de contos, histórias de tradição oral que são contadas por essa gente. Segundo ele, a relevância em divulgar estes relatos, é uma tentativa de conscientizar os leitores a refletir sobre a importância da preservação desta cultura regional que se fragiliza a medida que o avanço tecnológico se aproxima. Em contramão desta desvalorização que vem acontecendo, neste projeto há um resgate destas tradições, levando-as ao conhecimento do mundo. Juntamente à cultura local que se perde gradualmente, também a língua se acultura, assimilando palavras do universo exterior. O resgate deste linguajar sertanejo, não tem por intenção manter a língua estática, uma vez que compreende a dialética do mundo. Todavia, quer mostrar a resistência linguística que ainda sobrevive paralela a este conflito. Portanto, o maior dos motivos de um trabalho desta natureza é o respeito à alteridade, quando leva o leitor a perceber que a valorização da cultura do outro é imprescindível. Somente assim é possível amenizar o impacto cultural entre as diferentes regiões culturais do mundo.
O escritor e pesquisador Newton Emediato Filho, natural de Belo Vale, Minas Gerais. É autor de vários ensaios sobre a obra de João Guimarães Rosa e outros. Seu conto Um Papagaio Palimpséstico recebeu os prêmios: Projeto Manuelzão/UFMG e Menção Honrosa pela Editora Guemanisse, deTeresópolis/RJ. Também foi premiado no Concurso Guimarães Rosa com o conto O tempo de um livro na IV Jornada Guimarães Rosa/UFMG, organizada pela Associação Brasileira de Médicos Escritores. Participou ainda do livro Asgard: A Saga dos Nove Reinos, lançado em 2011 pela Editora Jambô, com o conto Em Transe. Atualmente representa a Seccional da Associação Internacional dos Poetas Del Mundo de Minas Gerais. Também é Embaixador Universal da Paz pelo Círculo de Embaixadores Universais da Paz Genebra/Suíça.
Todos os Dias de Ontem é antes de tudo, um grande livro, escrito por um autor que tomou seu próprio rumo, pelo qual podemos considerá-lo uma das melhores revelações do conto brasileiro neste novo século em que vivenciamos.


 

 




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