Este
ano comemoro 30 anos da publicação de um dos livros mais importantes que
escrevi. Trata-se de “Jesus Cristo Cego” (Editora Arte Quintal). A primeira
versão foi escrita em 1975, sendo reescrito durante doze anos, até alcançar a
versão final.
Com
capa de Rique Aleixo de Brito, diagramação do autor, ilustrações de Juçara
Costa e revisão de Vander Rabelo, o livro é dedicado à Ione Maria Kuya, Wagner
Torres, Kátia Peifer e de maneira especial à Márcia Regina Ribeiro que “fechou
os olhos”. No prefácio do poeta Leandro Lima, ele diz: “(...) Jesus Cristo Cego, a simpleza de um trabalho de profundidade
aguda, faz-nos voar no leve alimentar de versos tão verdadeiros e sutis quanto
o grande Richard Bach em Fernão Capelo Gaivota. O poeta, como poucos, consegue
alcançar um objetivo almejado, porém, apenas pelos mestres atingido: a
afirmação da realidade humana, sem ser banal, repetitivo e comum.(...)” O
livro tem como abertura, uma epígrafe do poeta e escritor libanês Gibran Khalil
Gibran.
“Jesus
Cristo Cego” é um livro místico, de apenas 30 páginas, mas com um texto bem
profundo e que foi lançado dia 13 de agosto de 1987, junto com Papoulas
Caboclas Sobre Águas Virgens, do Wagner Torres, na Biblioteca Pública Estadual
Luiz de Bessa, em Belo Horizonte. Abaixo, o texto na íntegra:
JESUS
CRISTO CEGO*
“Uma vez a cada cem anos, Jesus de Nazaré se encontra com Jesus dos Cristãos, num jardim entre as colinas do Líbano. E conversam
longamente. E cada vez, Jesus de Nazaré vai-se embora,
dizendo a Jesus dos Cristãos: - Meu amigo, receio que
nunca, nunca cheguemos a concordar.”
(Gibran Khalil Gibran)
Nasci
onde nasce o sol
no
lugar claro de um poente
no alto
da última montanha
e lá
vivi
até o
dia em que o Criador
fez-me
um ser no escuro
longe
da luz
sem ter
claridade.
E a
vida fez-me um ninho
de atos
miraculosos
um
orfanato de precauções.
Senti
meu sangue jorrar em poças
como
rios que jorram lágrimas no mar
construindo
ondas que formam
maremotos
em noite de lua linda.
Em cada
par
eu fui
um impar...
Em cada
veia
eu fui
artéria...
E cada
amor
eu fui
um sexo banal...
... e
em meio a tantos latidos
mordi
as carnes
e
calcanhares de mim mesmo...
... e
hoje tento explicar
os por
quês infinitivos.
Não
temo a morte
pois a
morte é um escuro
e o
escuro eu o conheço.
Aqui
onde
estou
apesar
do breu que me cerca
sinto
tantas coisas à minha volta.
Sinto a
brisa
sinto o
sol mesmo sem vê-lo
sinto
você cochichar ao vizinho
que
fulano está de pijama
que
beltrano se veste mal
sem
fazer de si mesmo um espelho
e saber
que talvez você
seja
uma boa parte deles.
Você,
eu
todos
nós
vivemos
numa total escuridão
que é
não saber
encarar
a realidade.
O homem
foge da mesma
como o
diabo da cruz
e por
mais que tentemos
esconder
nossas faces
enrugadas
sob uma máscara
a realidade continuará existindo.
Por que não olhá-la de frente
sorrir ou chorar para ela?
Medo?
De que adianta ter medo
de uma coisa que não
muda?
A realidade é uniforme
e continuará sendo
tenhamos medo ou não.
Morri numa cruz
a qual nem sei a cor
num calvário
feito pelos animais.
Vi o Centurião cuspir-me
a cara
e profanar-me a carne.
Mas não liguei
ele era um ser que
enxergava:
tive pena do seu gesto
medíocre.
Nasci no escuro.
Vivi no escuro.
Morri no escuro...
... mas voltarei na luz
Para iluminar os homens
POBRES SERES CEGOS.
(*Copyright © 1987: Rogério Salgado da Silva)
2 comentários:
Antes de falar alguma coisa sobre o livro de Rogério, que completa 30 anos da primeira edição (fato sobre o qual felicito o auto e dou meus parabéns), devo dizer não não sou místico e, tampouco, tenho alguma intimidade com poesia, motivo pelo qual nunca faço resenha sobre este tema.
Desta forma, peço licença para dizer que seus belos versos conseguiram emocionar este velho coração empedernido.
lindo...cristo esta dentro de nos e vai ressuscitar com http://mundoracional.com.br
Postar um comentário