segunda-feira, 22 de outubro de 2018

CARTA AO POVO MINEIRO - COMISSÃO DA VERDADE EM MINAS GERAIS



“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.”
Eduardo A. Costa (No caminho com Maiakóvski)

A eleição presidencial entrou nos dias decisivos. Face à grave situação do Brasil e às características de Jair Bolsonaro, a Comissão da Verdade em Minas Gerais – órgão não de governo, mas de Estado, cuja finalidade legal se realizou em fevereiro – pronuncia-se em nome de seu trabalho, lembrando a galeria infindável de horrores comprovados em sua apuração e coerente com as conclusões de seu Relatório Final.
O candidato da extrema-direita, em 30 anos de mandatos, nunca votou em projetos de lei favoráveis às classes populares e sempre aprovou políticas em benefício dos magnatas e poderosos. Ademais, sua carreira parlamentar primou por atos e declarações truculentas contra mulheres, negros e outros segmentos discriminados.
O candidato que defende o golpe de 1964, com os seus crimes – torturas, assassinatos, perseguição aos oposicionistas, ataque às universidades, intervenções nas entidades sindicais e eliminação das liberdades democráticas –, prega o retorno ao regime ditatorial-militar que mergulhou a Nação no seu período mais sombrio.
O candidato vassalo da geopolítica estadunidense quer privatizar as empresas estatais, eliminar as conquistas trabalhistas, destruir a Previdência e acabar com as políticas sociais. Confunde segurança pública com extermínio e guerra civil. Pretende suprimir o regime democrático, os direitos fundamentais e as liberdades civis.
O candidato que prega o ultra liberalismo econômico, o entreguismo antinacional, o reacionarismo político, o obscurantismo cultural, o falso-moralismo conservador e a intolerância perante as diferenças, também pratica métodos fascistas de ação, como preconceito, intimidação, mentira e ódio a tudo que discrepa de seus dogmas.
O candidato que tenta enganar algumas parcelas da população e transformar o Governo em arma para submeter a si o Congresso, o Judiciário, os Entes Federativos e as próprias Forças Armadas – tornando-as uma turba policialesca à margem do profissionalismo e da legalidade – tem como propósito a instauração do arbítrio.
Portanto, este momento exige a união dos democratas e progressistas, para além dos partidos, ideologias, doutrinas políticas e opiniões individuais. Para quem defende os direitos humanos e demais interesses populares, a única opção civilizada e sensata à crise político-institucional é barrar já, nas urnas e nas ruas, o plano despótico em curso. As hordas liberticidas não roubarão de novo “a flor do nosso jardim”.

Belo Horizonte, 8 de outubro de 2018
Comissão da Verdade em Minas