Em 1983 recebi das mãos
de Cadinho Faria, o compacto “Sementes da Canção” para escrevermos algo numa
revista que estávamos ainda lutando e sonhando em torná-la realidade. A canção
“Rio Araguaia”, parceria de Cadinho Faria e Toninho Camargos, que com lirismo e
metáforas, falava em plena época de censuras prévias, da Guerrilha do Araguaia,
numa homenagem a Idalísio, jovem de apenas 18 anos e que desapareceu nessa guerrilha,
mexeu comigo na época. Essa canção me fez chorar sem saber o porquê. E este
pequeno compacto foi a primeira nota que escrevemos para a referida revista.
Uma das realizações mais
importantes e oportunas que aconteceu em 2016 foi a publicação do livro “Grupo
Mambembe: Pequena história que virou canção” (Mundo Produções-Recanto das
Letras) de Toninho Camargos. Trata-se do resgate de um dos Grupos mais
importantes que surgiram na cultura mineira (e por que não, nacional!), um relato sobre o Grupo Mambembe (cujo nome veio de
uma canção do Chico Buarque), que se dedicou a um trabalho da maior importância
cultural neste estado, entre 1974 e 1982.
O livro resgata em suas
memórias, a época dos festivais, eventos que revelaram nomes hoje importantes
para a música brasileira. Formado por, entre outros, Toninho Camargos, Cadinho
Faria, Titane (que ainda se chamava Ana Íris), Ligia Jacques, Rogério Leonel,
Murilo Albernaz, Luiz Henrique de Faria, Miguel Queiroz, Lincoln Cheib, Aldo Fernandes, Alysson Lima, Antônio Martins, Cláudia
Sampaio Costa, Eduardo Amaral, Edson Aquino, Hermínio de Almeida Filho, Lina
Amaral, Marcílio Diniz e Paulinho Mattar. A produção era feita por José Maria
Caiafa. Figura importante também neste contexto foi o hoje, reconhecido nacionalmente,
compositor Celso Adolfo e a concertista de piano Berenice Menegale.
A importância do Grupo Mambembe no cenário teatral mineiro e fora deste
estado é de uma importância inquestionável, levando aos palcos trabalhos cênico-musicais tais como: “A Revolta da
Chibata”, “Conversa de Botequim-Filosofia da cerveja”, “De Xica a Xico” e
“Divisor de Águas”. E levando a arte sem estrelismos, chegou a ousar levar para
os palcos, Casquinha, um talentoso flautista de rua, pouco observado quando nas
calçadas, tocava em troca de alguns trocados; assim como a participação em 1978
da “Semana do proibido”.
O Grupo mereceu elogios sinceros de pessoas importantes no cenário
artístico, como o saudoso letrista Fernando Brant e Afonso Borges, realizador
do “Sempre um papo”, um dos projetos literários mais importantes no momento
para o país. O fim do Grupo Mambembe em 1982, coincidentemente ocorreu da mesma
maneira que o EPC-Encontro Popular de Cultura, que em 1985 trouxe mais de dois
mil fazedores de cultura deste estado, para a capital mineira: com a entrada do
PCdoB-Partido Comunista do Brasil, o grande evento foi minguando até encerrar
suas atividades.
Toninho Camargos é compositor e foi um dos fundadores do Grupo Mambembe.
Assina com Luiz Henrique de Faria e Regina Coelho, o blog: “Noel Rosa – 100
canções para o centenário, disponibilizado na internet.
Realizado com recursos do sistema de financiamento coletivo por meio do
site Catarse, acompanha o livro, um CD que reproduz o repertório do grupo
gravado em sua época áurea, além da inédita “Tempo Mambembe” de Toninho
Camargos e Cadinho Faria.
“Grupo Mambembe: Pequena história que virou
canção” além de um importante resgate histórico de um dos mais importantes
grupos deste país tem uma narrativa gostosa de ler, levando-nos a voltar no
tempo, naquele tempo que arriscar tudo pela arte, era a melhor forma de sermos
felizes. Muito ainda poderia aqui comentar, mas deixo ao leitor o prazer de ler
esse importante lançamento para a história da música e do teatro brasileiro
contemporâneo.
Em tempo:
lembram-se da tal revista que cito no início deste comentário: é a Revista Arte
Quintal, que surgiria em 1983 e que após ficar conhecida nacionalmente, fechou
as portas em pleno Plano Collor. Pois é, após ler “Grupo
Mambembe: Pequena história que virou canção” me senti motivado a escrever a história dessa revista, que em
2018 faria 35 anos de sua criação.
Contatos: vendasgrupomambem@gmail.com
Foto ilustrativa: Vânia Aroeira
Um comentário:
Um trabalho de resgate e criação de novas possibilidades.
Parabéns!
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