quinta-feira, 22 de junho de 2017

GRUPO MAMBEMBE; GRANDES CANÇÕES E EVENTOS QUE VIRARAM HISTÓRIA


Em 1983 recebi das mãos de Cadinho Faria, o compacto “Sementes da Canção” para escrevermos algo numa revista que estávamos ainda lutando e sonhando em torná-la realidade. A canção “Rio Araguaia”, parceria de Cadinho Faria e Toninho Camargos, que com lirismo e metáforas, falava em plena época de censuras prévias, da Guerrilha do Araguaia, numa homenagem a Idalísio, jovem de apenas 18 anos e que desapareceu nessa guerrilha, mexeu comigo na época. Essa canção me fez chorar sem saber o porquê. E este pequeno compacto foi a primeira nota que escrevemos para a referida revista.
Uma das realizações mais importantes e oportunas que aconteceu em 2016 foi a publicação do livro “Grupo Mambembe: Pequena história que virou canção” (Mundo Produções-Recanto das Letras) de Toninho Camargos. Trata-se do resgate de um dos Grupos mais importantes que surgiram na cultura mineira (e por que não, nacional!), um relato sobre o Grupo Mambembe (cujo nome veio de uma canção do Chico Buarque), que se dedicou a um trabalho da maior importância cultural neste estado, entre 1974 e 1982.
O livro resgata em suas memórias, a época dos festivais, eventos que revelaram nomes hoje importantes para a música brasileira. Formado por, entre outros, Toninho Camargos, Cadinho Faria, Titane (que ainda se chamava Ana Íris), Ligia Jacques, Rogério Leonel, Murilo Albernaz, Luiz Henrique de Faria, Miguel Queiroz, Lincoln Cheib, Aldo Fer­nandes, Alysson Lima, Antônio Martins, Cláudia Sampaio Costa, Eduardo Amaral, Edson Aquino, Hermínio de Almeida Filho, Lina Amaral, Marcílio Diniz e Pau­linho Mattar. A produção era feita por José Maria Caiafa. Figura importante também neste contexto foi o hoje, reconhecido nacionalmente, compositor Celso Adolfo e a concertista de piano Berenice Menegale.
A importância do Grupo Mambembe no cenário teatral mineiro e fora deste estado é de uma importância inquestionável, levando aos palcos trabalhos  cênico-musicais tais como: “A Revolta da Chibata”, “Conversa de Botequim-Filosofia da cerveja”, “De Xica a Xico” e “Divisor de Águas”. E levando a arte sem estrelismos, chegou a ousar levar para os palcos, Casquinha, um talentoso flautista de rua, pouco observado quando nas calçadas, tocava em troca de alguns trocados; assim como a participação em 1978 da “Semana do proibido”.
O Grupo mereceu elogios sinceros de pessoas importantes no cenário artístico, como o saudoso letrista Fernando Brant e Afonso Borges, realizador do “Sempre um papo”, um dos projetos literários mais importantes no momento para o país. O fim do Grupo Mambembe em 1982, coincidentemente ocorreu da mesma maneira que o EPC-Encontro Popular de Cultura, que em 1985 trouxe mais de dois mil fazedores de cultura deste estado, para a capital mineira: com a entrada do PCdoB-Partido Comunista do Brasil, o grande evento foi minguando até encerrar suas atividades.
Toninho Camargos é compositor e foi um dos fundadores do Grupo Mambembe. Assina com Luiz Henrique de Faria e Regina Coelho, o blog: “Noel Rosa – 100 canções para o centenário, disponibilizado na internet.
Realizado com recursos do sistema de financiamento coletivo por meio do site Catarse, acompanha o livro, um CD que reproduz o repertório do grupo gravado em sua época áurea, além da inédita “Tempo Mambembe” de Toninho Camargos e Cadinho Faria.
 “Grupo Mambembe: Pequena história que virou canção” além de um importante resgate histórico de um dos mais importantes grupos deste país tem uma narrativa gostosa de ler, levando-nos a voltar no tempo, naquele tempo que arriscar tudo pela arte, era a melhor forma de sermos felizes. Muito ainda poderia aqui comentar, mas deixo ao leitor o prazer de ler esse importante lançamento para a história da música e do teatro brasileiro contemporâneo.
Em tempo: lembram-se da tal revista que cito no início deste comentário: é a Revista Arte Quintal, que surgiria em 1983 e que após ficar conhecida nacionalmente, fechou as portas em pleno Plano Collor. Pois é, após ler “Grupo Mambembe: Pequena história que virou canção” me senti motivado a  escrever a história dessa revista, que em 2018 faria 35 anos de sua criação.
Contatos: vendasgrupomambem@gmail.com

Foto ilustrativa: Vânia Aroeira

Um comentário:

Maria Tereza Penna disse...

Um trabalho de resgate e criação de novas possibilidades.
Parabéns!