No momento
estou escrevendo meu próximo livro para 2018. Trata-se da história de uma
revista criada por mim e outros amigos em 1983 e que, mesmo sem internet
naquela época, tornou-se conhecida como referência cultural nacionalmente. Revelamos
vários artistas desconhecidos, alguém famoso na capa para vender e o leitor
levando a revista, leria entrevistas com esse alguém de renome e o outro alguém
desconhecido. Artistas de todo o país quando vinham à capital mineira,
visitavam três lugares: o Palácio das Artes, o Suplemento Literário do Minas
Gerais e a Revista Arte Quintal, cuja sede ficava na Rua Carijós, 150 – Sala 803.
A revista fechou as portas em 1992, em pleno Plano Collor. Abaixo trechos deste
livro, ainda sem revisão, para a leitura dos curiosos. (Rogério Salgado)
“Neste ano de 1982
conheci Ecivaldo John, que morava na Av. Gal. Olímpio Mourão Filho nº 122,
apartamento 101 A, no Planalto, local que seria o primeiro endereço do futuro
jornal que ele iria criar comigo. Conheci depois Virgínia Reis e começamos a
namorar com certo entusiasmo de juventude, pois apesar de estar nos meus 28
anos, era de certa maneira, um adolescente. Eu entusiasmado por namorar uma
estudante de medicina bem bonita e ela por namorar um poeta. Dizem que até hoje
não envelheci, por causa do frescor da juventude que levo dentro de mim.
Juntamos meu sonho com a garra que ela tinha
e a alegria e entusiasmo do Ecivaldo. Num dos nossos primeiros encontros, fomos
eu, ela e Ecivaldo numa corrida de Motocross na Serra do Cipó, ver velocidade e
poeira misturar-se aos nossos ideais. Decidimos então, fazer pedágios em
semáforos e vendermos rifas nas imediações do bairro, para juntar dinheiro. A
gente deixava de curtir nosso fim de semana, para nos dedicarmos e essa
empreitada. Cada pessoa que nos ajudava nos pedágios ou comprando nossa rifa,
recebiam um folheto com o texto escrito por nós três (...).
O número zero saiu
dia 13 de março de 1983. Fizemos um lançamento no bar Nós Todos. Só que dessa
vez, foi um sucesso, pois o local ficou lotado. Todos queriam conhecer aquele
novo jornal-revista que trazia uma proposta nova, diferente.
A partir do dia
seguinte, saímos vendendo de mão em mão nos bares, nas noites da capital
mineira. Este nº zero vinha com uma arte na capa feita pelo Clifor Andrade, um
garoto talentosíssimo de apenas 15 anos e que atualmente é um senhor dentista,
com consultório no bairro Planalto. Lembro que sua mãe ficou decepcionada, pois
achava que seu filho iria receber pela arte para a nossa capa. Nós não tínhamos
nem para pagarmos direito a gráfica, quanto mais para pagarmos ao Clifor pela
sua arte. Ou seja, ficou na colaboração.
Na capa tinha um desenho do Charles Chaplin,
o homenageado desta edição.(...)
E assim seguimos com
nossa vontade de não deixarmos a peteca cair. E para a edição de nº 2 Wagner
sugeriu Marco Antonio Araújo, um músico instrumental mineiro, que estava sendo
reconhecido nacionalmente. Virginia sugeriu Sara Amorim que era a editora do
jornal Nossa Música, a qual muitos achavam que éramos concorrentes e para
quebrar essa barreira, fizemos uma matéria com a Sara na nossa revista e ela
fez uma matéria conosco para a sua revista, tipo uma troca de gentilezas. Meu
amigo jornalista Adair José nos ofereceu uma entrevista que ele tinha feito com
a artista plástica Yara Tupinambá, a qual aceitamos de bom grado e Wagner
sugeriu Rubinho do Vale. Nesta edição, logo abaixo do editorial escrevemos um
texto falando sobre as eleições diretas em 1985. Ali, quase sem perceber,
começávamos a nos envolver politicamente. Dedicamos a edição a John Lennon e
incluímos a letra de “Imagine” traduzida. Nesta época, vários artistas
mineiros, incluindo nós da Arte Quintal, já nos reuníamos no Teatro Marília e
na sede da Apated para discutirmos as eleições diretas. Queríamos um presidente
que fosse eleito por nós, mesmo se errássemos ou acertássemos, queríamos ser os
donos da história e naquele finalzinho de ditadura, ainda éramos impedidos de
criarmos o futuro desse país. Queríamos o verdadeiro sentido da liberdade
correndo em nossas veias.(...)
Dia 27 de agosto de 1991, apesar das estarmos
passando sérias dificuldades, fizemos um show no extinto Cabaré Mineiro, para
comemorar os oito anos da Arte Quintal, com a presença de músicos e poetas que
doaram a bilheteria para ajudar a Editora. Foram eles Marku Ribas, Ladston do
Nascimento, Cynthia Martins & Marcus Bolivar, Sheyla Araújo, João Bosco
& Ilca e Zé Baliza & Bajaré. João Boamorte não compareceu por problemas
de saúde, vindo a falecer logo depois. O jornal Minas Gerais publicou matéria
sobre o evento.
E foi aí que o Wagner
teve a idéia de dar uma última cartada: a produção de uma antologia de contos
mineiros intitulada “Flor de vidro”, título de um conto inédito de Murilo
Rubião, gentilmente cedido pela sua família para nos ajudar, assim como dos
outros autores que abriram mão de seus direitos autorais. O livro considerado
uma importante reunião de autores mineiros, desde veteranos a estreantes teve
seu lançamento oficial no Projeto Minas Escreve, da Caixa Econômica Federal dia
16 de dezembro de 1991, mas poucos exemplares foram vendidos, apesar de sua
enorme importância para a literatura brasileira, como um divisor de águas na
editoração de livros de contos na história da literatura nacional. Foram 48
autores entre desconhecidos e consagrados, numa reunião de quatro gerações,
juntando realismo fantástico, pop, erótico, impressionismo, pós-moderno, num
livro que marcou uma época. Organizado pelo Wagner com uma pequena ajuda minha
(...)”
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