Não gosto de poesia
extremamente técnica e fria, gosto de emoção. Gosto de ouvir pessoas contarem
suas vidas sem lapidarem seus sentimentos. Gosto daquilo que é sincero e puro. Gosto
do que é humano.
Em “Poemas fortuitos
& Prosas singelas”, (Editora São Gerônimo), a poesia de Nívea Reis é assim:
pura e sincera, sem preocupações estéticas. Apenas nos diz o que vem da sua
alma. Por isso, emociona. Se há rimas, elas são espontâneas e essa
espontaneidade dá uma certa beleza aos seus versos. Confesso que gosto e muito
dos versos de Nívea Reis.
Sua poesia antes de
tudo tem sinceridade e fala com humanidade. É um desabafo em versos. Vi muito
isso em Manoel Bandeira: “Por trás da indignação,\Desejo de melhorar.\Por
trás da agressividade,\Desejo de me defender.\Por trás da insegurança,\Desejo
de ser protegida.\Por trás do mau humor,\Desejo de ser feliz.\Por trás
de tudo isto,\Desejo de amar e ser amada!”
O sabor e a leveza
que vêm na sua poesia, nos lembra uma criança a nos dizer coisas, dessas que
nos surpreende a cada instante. E a verdadeira poesia, assim como as crianças,
são puras de coração. Os poemas deste “Poemas fortuitos & Prosas singelas”
são pérolas sem lapidação, aquelas que não precisam porque já nascem cobertas
de beleza natural. Daí a sua força a nos dizer verdades.
A vida do poeta é
diferente. É uma vida de questionamentos, já que sua percepção vai além dos que
não carregam em si, a sensibilidade. E esse fato que diferencia o poeta está
justamente no que lemos em sua obra: “Senhor, permita me saber,\Porque há no
mundo tanta dor,\Porque há no mundo tanto sofrer\Se o Senhor é todo
amor?\Quantas tragédias aconteceram\Quantos crimes hediondos\O Cristo em
abandono\Quantos mártires pereceram...\Ó! Senhor de todos os corações\Não
permitas que todos os dias\Tantos inocentes em orações\Continuem perdendo suas
vidas\Ó! Senhor Absoluto\Permita que doravante\Todos os teus filhos em
luto\Vislumbrem um futuro brilhante!”
Na segunda parte do livro
observamos sua poesia mais próxima daqueles que verdadeiramente ama: uma poesia
mais íntima e que por assim ser, traz em suas palavras, a proximidade com o
leitor. Taí a sua maior grandeza: dividir sua alma com quem está mais próximo.
Mais além, em “Pensando
nele...” descobrimos em sua intimidade, o amor. Aqui, a poeta se desnuda sem
pudor e sem receios e abre seu coração apaixonado. E qual ser humano nunca se
apaixonou? Transformar esse sentimento em poesia, isso cabe aos poetas e Nívea
Reis sabe como poucos, realizar esse feito:“Mais uma vez me inspiro\Na tua
imagem duradoura\A qual me arranca suspiros\Numa paixão imorredoura\Quero
de relance lhe propor\O que para mim é um prazer\Provar o doce mel do
amor\Que dos teus lábios está a correr\Mas algo me faz ponderar\É
preciso paciência\ É preciso esperar\Algum dia hás de descobrir\Quão
puro é o meu amor.”
Em “Prosas singelas”
que encerra o livro, descobrimos uma prosadora que faz reflexões vívidas e
vividas em seu dia a dia. Nas duas únicas crônicas escritas em inglês, nas
quais percebemos que a autora vai além da sua língua pátria,
escrevendo com
naturalidade nesse idioma, ela nos diz de seus desejos de outrora, quando
queria ser como artistas que tanto admira, mas que hoje se sente feliz em ter
vivido essa ilusão de criança, assim como também nos faz refletir sobre a
mocidade e a velhice, que as duas podem (e devem) caminhar juntas. Aqui, sua
emoção vai além e diz o que tem de dizer, apenas pelo fato de ser, antes de
tudo, um ser humano pensante.
“Poemas fortuitos
& Prosas singelas” é isso, um livro para se ler sem pretensões, mas apenas
num desabotoar de sentimentos, deixar-se invadir pela poesia humana, essa
poesia de Nívea Reis.
*Prefácio do livro
escrito por mim.
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