Por Rogério Salgado
Gosto da poesia de
Petrônio Souza Gonçalves desde “Um facho de sol como cachecol” (Realejo Livros e Edições-2015),
primeiro livro de sua autoria a cair nas minhas mãos. Gosto porque sua poesia é
uma poesia honesta, sincera e não dessas que são feitas a medida de régua, como
se fosse um tratado de palavras. Sua poesia não é uma poesia preocupada com
formas e estéticas, mas sim, preocupada com o sentimento do autor, que antes de
ser poeta, é um ser humano. A técnica em sua poesia é resultado secundário em
seus versos. Vi muito disso em Manuel Bandeira. Recebo agora “Braço de rio,
pedaço de mar” (Realejo Edições-2018) que me encantou do inicio ao fim.
Vejamos seus versos: “Agora sei,\é tarde,\o que posso
fazer?!\Nada mais tenho em você,\só lembranças\de sua doce presença,\lua em
minha noite estrelada,\me mostrando as belezas do caminho.\Era tudo assim como
um poema,\amor de macho e fêmea,\calmaria de riacho,\beleza de flores na
janela.\meu cacho,\cidade prometida,\coisa boa dessa vida é passageira,\hoje é
domingo,\amanhã,\segunda-feira.”
“Braço de rio, pedaço de
mar” traz aquele sentimento de que a poesia, a verdadeira extraída da alma,
ainda existe, apesar desses tempos imediatistas em que as redes sociais
mentirosamente aproximam as pessoas, quando na verdade as mantém distantes e
nesses tempos frios em que o melhor poeta é o que mais trabalha palavras do que
sentimentos. Prova disso são os versos sensíveis de Petrônio Souza Gonçalves,
quando nos diz: “Tudo cabe no poema.\Até
nossas dores menores,\amores maiores.\O
poema comporta tudo,\porque ele é sem fronteira,\entra dentro da gente\e
vai,\silenciosamente,\poeticamente, a vida inteira.”
Petrônio Souza Gonçalves
é jornalista, escritor e poeta. Publicou
entre outros livros: “José Aparecido de Oliveira – O melhor mineiro do
mundo”, É um dos
autores do livro “AI-5” (Baroni Edições-2016) em co-autoria comigo, Bilá
Bernardes, Helenice Maria Reis Rocha e Irineu Baroni. E é neste “AI-5” que li
um dos mais belos poemas escritos por um poeta que tem sensibilidade de
perceber a sua volta, além do seu umbigo, poema este escrito para
o pequeno Aylan Kurdi, encontrado morto
dia 02\09\2015, na praia da Turquia, após
naufrágio da embarcação em que fugia da
cidade Síria de Kobane, republicado neste “Braço de rio, pedaço de mar” e que
nos diz: “Depois de morto\- somente
depois de morto -\o pobre menino refugiado\ganhou o abraço,\o colo,\o afago\e a
solidariedade da humanidade.”
“Braço de rio, pedaço de
mar” tem projeto gráfico de Ronei Luiz, capa de Paulo Caruso, prefácio de Aldir
Blanc.
E quem nos diz que: “O bom da vida\é repartir o pão\que a gente
não tem,\a cada dia.” merece sim, nosso respeito, por antes de ser poeta,
ser um Ser Humano.
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