Recebi da escritora
Teresinka Pereira, brasileira radicada nos Estados Unidos da América, uma das
escritoras e ativistas mais respeitadas no mundo, o artigo abaixo, o qual
democraticamente publico no meu blog. Gostaria de esclarecer aos leitores que acompanham meu blog, que
em nenhum momento criei ou fiquei sabendo que criaram um Movimento Nacional com
a finalidade de fazer com que os poetas sejam mais humanos e deixem seus
estrelismos de lado. Numa carta publicada no jornal O CAPITAL, editado em
Aracaju\SE por Ilma Fontes, apenas comentei uma opinião pessoal sobre
estrelismos poéticos e se boatos cresceram e tomaram outras proporções, juro
que não tive culpa. Eu tenho sim, comentado em eventos e entre amigos que acho
ridículo um profissional de qualquer área se encher de estrelismos e que eu,
Rogério Salgado, apesar de 42 anos de carreira poética, prefiro ser lembrado
após a minha morte, bem mais como um grande Ser Humano, que deixou atitudes
mais úteis para a humanidade, do que ser lembrado como um grande poeta, que a
única coisa que deixou de contribuição, foram seus versos. Mas respeito à
opinião de todos, concordando ou divergindo do que penso. E por falar em
Movimentos, continuo afastado de todos os eventos literários possíveis (com exceção
dos movimentos do livro “AI-5”, organizado por mim e do qual sou um dos
autores). Abaixo o excelente artigo escrito pela amiga Teresinka Pereira.
OS POETAS ACHANDO QUE
SÃO DEUSES
Por Teresinka Pereira*
Estava tranquilamente
lendo o meu CAPITAL de cada mês, quando deparo com a carta (marcada) do poeta
Rogério Salgado, dizendo que havia tomado parte em um movimento nacional com a
finalidade de fazer com que “os poetas se tornem mais humanos e deixem seus
estrelismos de lado”. Se a carta não estivesse dirigida à editora Ilma Fontes e
não estivesse assinada por ele, não ia acreditar!
Então existe mesmo esse
tal movimento contra los poetas “estrelas”, os que só conversam com seu próprio
ego? Pois me
garantem mesmo que além de existir tal calamidade, o movimento já conta com 40%
de aprovação e participação de poetas “mais humanos"? Pois se existe quero
participar. Só que não sei de que lado vou ficar! Tenho a tendência para ser
“deus” que para ser “humana”. Acho que vou participar dos 60% do lado dos que
conversam com o próprio ego ou com o ego de meu próximo poeta.
Explico porque: não está a meu alcance nenhum vizinho trabalhador que tome
cerveja e olhe o futebol sem se importar com a lírica nem os versos, mesmo que
saiam lá do terreiro ou do morro sambista. Para mim o mundo roda em ritmo de
versos. Tenho um amigo nicaraguense, o Javier Peralta, que é trabalhador, mas é
também poeta. Quando termina de cimentar um passeio ou de desentupir um esgoto,
lava as mãos e senta para escrever poesia. Tenho outro amigo na Itália, o
Ferrucho Brugnaro, que afirma ser operário, com muito orgulho e é poeta, com
mais orgulho ainda. É um poeta proletário, líder trabalhista no Porto Marghera
da Itália. Estivador e
poeta! Esses versos são de sua autoria e talvez tenham que ver com seu
trabalho:
Nossa carne, nosso
coração
voltam a ser agora
aquele sonho
guerrilheiro
de pássaros e céus
impossíveis de imaginar!
Nos tempos da Rússia
Soviética eu correspondia com alguns poetas proletários, cuja profissão de
poeta era acumulada à de operário. E há outras de que a poesia está muito
intimamente relacionada com o “ego” dos trabalhadores. A revista de poesia
estado-unidense BLUE COLLAR REVIEW (REVISTA DE COLARINHO BRANCO) está dedicada
ao trabalho, aos trabalhadores e só publica poesia de tema laboral. Seu editor,
Al Markowitz, é poeta, e são dele esses versos:
Necessito a inspiração
a grandes jatos de minha
poesia
dando doce liberdade
à cada paixão guardada
por um tempo.
Uma vez a “Revista de
Colarinho Azul” publicou (em inglês) este poema que escrevi sobre o poeta e o
trabalho do poeta:
TRABALHO DE POETA
Estou em uma selva de
nervos.
Dizem que o stress vem
do trabalho excessivo,
vem do dormir a manhã
inteira
e de levantar-me ao meio
dia, descansada e triunfante
para viver a palavra que
se detém em outros lábios.
Mas não. O trabalho do
poeta
embora seja como um poço
sem fundo
é também como um tango
bem ou mal cantado
que padece nos círculos
espaciais.
Minha dor não vem do
trabalho.
Ao contrário, meu
trabalho vem da dor,
do verso de pedra que
faz explodir o horror da alma
enquanto espero a vida
começar outra vez.
Eu sou advogada do ego.
Principalmente do ego dos poetas. Uma vez li esta explicação do ego em um
jornal de Costa Rica (Semanário Universidad), escrita por Hermán R. Mora C,
Prof. Da Universidade de Costa Rica e tomei nota para nunca mais me esquecer:
“Yo soy El espejo de los
otros. E igualmente soy yo El outro de los demás. Queda El reto – para todos
los que décimos si tener cara – procurar que la vida de los otros sea, gracias
a nuestra presencia ocasional cada día
em esta Tierra uma justificación para hacer um mundo realmente más justo, menos
sufrido, corrupto e impune.”
E no Brasil, vamos
lembrar o poeta Emil de Castro que disse uma vez, em favor do poeta, em algum
lugar que não me lembro, talvez em um livro:
“Não possuo verdades.
Possuo ilusões. Iludo-me a todo momento. Ontem tive ilusões de político. Hoje
tenho de poeta. A única coisa verdadeiramente permanente é a poesia. Tudo
passa. A própria vida passa. A morte também passa.” (Emil de Castro)
Há que respeitar o ego.
E por essas coisas e esses poetas é que eu creio que o mundo precisa de nossa
criação, de nossa divindade necessária que é ser o poeta, para dignificar o
trabalho, o futebol, a cerveja, a humanidade que “nem sabe quem é Mário de
Andrade, Carlos Drummond, Mário Quintana, Ilma Fontes ou Rogério Salgado...
Pois é, meu amigo, o poeta é um criador. Então não é um deus quem pode criar
estes versos que cito em seguida?
“CONCEITO**
Sou o que representa\a
febre, a dor\a expressão exata\a corda que desata\todos os nós acorrentados\aos
conceitos do que\querem que a poesia seja.
Canto a canção
ferida\daquilo que é doído.
Tenho olhos de vidros
partidos\e a imensidão de compor.
Não me
estabeleço\amanheço, entardeço, anoiteço\na forma mais concreta.”
É deus mesmo, o deus que
só existe na nossa imaginação e no nosso ego de poeta.
**Poema
autoria de Rogério Salgado.
2 comentários:
O poeta é um criador é responsável. Cria vidas, tem opinião e revela uma Rosa de Hiroshima. Pena que quem chorou por um Rio Doce não esteja mais aqui em carne. Porém o espírito deva prevalecer. A voz do poeta não deve se calar ao escutar alguns pré- conceitos. Existe um Doce Rio a espera de sons que não se deixarão silenciar...
beleza....deus está dentro de nós no http://mundoracional.com.br paz e amor
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