Por
Rogério Salgado
Dona de
uma poesia visceral, porém de excelente qualidade literária e estética, Maria
Rezende em seu Carne de umbigo (Edição
da Autora) escreve como quem dialoga com o leitor, numa conversa íntima numa
mesa de bar. Sua poesia é simples e aí é que está o grande desafio: escrever
para ser entendida com facilidade, sem cair no simplesco ou lugar comum. E
justamente por não obedecer a regras, sua poesia é livre de cercas, contratos
de risco e burocracias (incluindo censuras), atingindo o leitor em cheio,
encantando-o com sua delicadeza às vezes agressiva.
A
poesia de Maria Rezende não imita ninguém, é autêntica e fala por si mesma, com
a sinceridade que vem impregnada em seus versos. É uma poesia que dá a cara a
tapa, expondo sentimentos, com a palavra enxuta na medida certa.
Vejamos:
“A lua na janela\como uma injustiça\como
um rapto\A lua na janela do quarto\em noite de nudez sem platéia\A lua
cheia\barriga branca da baleia\peixe no aquário do sistema solar\A lua
espelho\morta\sem luz própria\Na janela do quarto\contra o céu cor de
petróleo\Braços se agitam\pés se contorcem\doem cabeças\corações\No Hemisfério
Sul\na exata latitude de um abraço\tiro com suor alheio o preto dos olhos\Ela
congela\eu incendeio\Eu nua na janela\A lua na cama entre os lençóis"
Maria
Rezende em seus versos, fala de amor sem ser repetitiva, como quando diz: “(...)\Quando eu te vi você virou um
tubarão\eu fui areia\fui espuma\imensidão\Eu elefante\você todas as formigas\eu
gata branca\você tigre\escorpião\Eram seis listras num azul de fim de
tarde\tinha uma luz inesperada sobre mim\Quando eu te vi o que era dentro virou
fora\uma janela apareceu quando eu te vi”
Em meu
livro Quermesses (e outros poemas
profanos) (Belô Poético-2005), eu já dizia: “Palavras, o que são palavras\senão apenas sons emitidos pela boca\que
se dependessem da moralidade\algumas seriam apenas\sons omitidos pela boca.”
E isso se confirma quando Sebastião Nunes publicou Elogio a punheta e foi crucificado em pleno século XX e agora o
poema “Malaysian Airlines”, o melhor deste Carne
de umbigo, porque seria impublicável num jornal da capital mineira (quiçá,
qualquer jornal), por causa de censuras da nossa tradicional família mineira (novamente,
quiçá, brasileira) a palavras segundo a qual, seriam impublicáveis. Mas fica a
curiosidade de quem queira ler impresso nas páginas do livro.
Com mais de dez anos de
estrada literária, Maria Rezende é poeta, carioca, atriz, montadora de cinema e
TV. Cozinha banquetes para pequenas multidões pedala uma bicicleta florida,
dança sem música em dias nublados, é a medrosa mais corajosa que conhece e
escreve muito, muito bem mesmo. E publicou três livros, incluindo este Carne de umbigo.
Publicado de forma
independente, Carne de umbigo é um
livro que mexe com a sensibilidade do leitor, até mesmo aquele que não curte
muito poesia se encantará com a poesia de Maria Rezende. E quem diz que “Se a vida te der um presente\aproveita\Ela
tem me dado vários\entre porradas e passos de dança\eu mastigo tudo em
movimentos concêntricos\depois bebo chá verde pra digerir\(...) merece ser
lida, relida, comida e mastigada com todo o respeito que os verdadeiros poetas
merecem. Esse eu indico.
2 comentários:
Belo comentário. Fiquei com vontade de ler o livro.
BELEZA....É TEMPO DE PAZ COM http://novafaseracional.com.br
Postar um comentário