Por Rogério Salgado
Quando em agosto de
2002, numa escola pública e marginalizada de Diadema – Eldorado\SP, o Grupo
Divinos & Profanos, criados pelos alunos J.J. Arruda e Francisco Baker, que
com o apoio da diretoria elaboraram e colocaram em prática o projeto Intervalo
Poético, com a intenção de fomentar o hábito da leitura, talvez não imaginassem
a importância desse trabalho para a história da literatura. Ao criarem o
fanzine Augustus (pelo mês de agosto e homenageando o poeta Augusto dos Anjos).
No inicio de 2003 o grupo agrega os poetas Ely Pires e Murillo Kollek, que
participavam da oficina de literatura no Centro Cultural Inamar. E para mostrar
a que vieram, o grupo agora lança a coletânea dos quatro poetas, intitulada: Augustus Cotidiano e Urbandade (Editora
Celta).
Nota-se quatro poetas de
estilos diferentes (cada um na sua), mas com uma questão em comum: usar a
poesia como denúncia crítica e mostrar o mundo em que vivemos, onde o mais
importante é o ter, e não o ser. E isso podemos notar neste ano de 2016, onde
os interesses políticos valem mais do que os interesses do país, onde também
culpamos muitas vezes defeitos governamentais, os quais cometemos no nosso dia
a dia. Abaixo um pouco de cada poeta.
“Alimento,\bueiros
putrefatos:\Papéis, Plásticos, Latas...\Amamento gastrite
nervosa,\enquanto seborréias consomem-me...\Divido espaços deprimentes\com
lençóis, louças, baratas...\Carteiros entregam-me\notícias e contas
perniciosas...” (Pensamentos Arremessados
Contra Tudo-J.J. Arruda). “No chão deito
meu corpo.\Coberto por estrelas\durmo ao léu.\Papel jornal, forrado de
letras,\revela meus sonhos.\O sino da igreja não despertou.\Ouço o
silêncio,\sussurrando pelas gotas de orvalho.\Leve brisa\Choro sem ombro
amigo\que me console.” (No Chão... – Francisco Baker). “Ao recanto dos santos,\vou a sua procura.\Olho para todos os
lados.\Retorno ansioso\ao próximo domingo.” (A Sua Presença-Ely Pires). “Gosto do cheiro da madeira.\Ouvir os
murmúrios de pessoas,\sentadas em suas mesas\saboreando as refeições do
dia.\Mulheres bem vestidas.\Homens elegantes.\Crianças invisíveis.\Moças lançam
sorte sobre\os rapazes.\Negociantes acertam o preço.\Há uma brisa que paira no
terraço,\de onde deixo a fina chuva,\molhar meu rosto.” (Hotel
Lisboa-Murillo Kollek).
Talvez os quatro autores
nem tenham percebidos, mas Augustus
Cotidiano e Urbandade corre o sério risco de ser um divisor de águas na
moderna poesia brasileira. Mas isso, a história é quem dirá.
Contatos: Rua
Caranguejo, 249 – Diadema – Eldorado\SP – Cep 09.971-100.
Um comentário:
Bom dia
Infelizmente só agora navegando na internet, achei o seu post sobre o Augustus, sou um dos poetas dessa antologia, muito grato pelos comentários, quatro anos se passaram. Peço perdão por não ter visto antes, mais uma vez, gratidão.
Murillo Kollek
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