Pra mim, chega
(Para Torquato Neto)
O sol amarelando todos os dias
nos chuvosos dias dentro de mim
mostram o que poderia ter sido
se versos não ocupassem essa vida
esse sol e essa lua constante
que se apagam diariamente
naquilo que de mais existe
nas palavras escondidas
daquilo que ninguém sabe
do que se sabe sobre meu verso
um sorriso que não seria
um caminhar sem ter rumo
um doce amargo sem sumo
e sonhos desmoronados
nos castelos de areia
de uma praia qualquer
que não exista
o tempo não renasce
e nem retorna nos sonhos
daquilo que fomos e não somos mais
o desejo do que poderia ter sido
transforma o peito num vazio
feito um rio sem mágoas
um coração sem águas
e o ensejo do fim.
Daí, essa vontade de não estar aqui!
BH, 11 de novembro de 2012
Nunca me esqueci de Torquato Neto, um dos maiores e mais importantes letristas da nossa MPB. Lembro dele constantemente, mas dia 11 de novembro último esqueci que essa era a data comemorativa de 40 anos de sua morte. Isso me faz repensar o quanto somos idiotas em pensarmos que somos estrelas a brilhar no firmamento da arte. Um dia eu, por exemplo, irei embora para sempre e com o tempo as pessoas se esquecerão de mim. Mas a minha obra não, essa com certeza corre o risco de ser eternizada. Isso porque há muito tempo deixei de buscar os palcos, aplausos e fotos nos jornais, por achar tudo isso efêmero. Mas nunca deixei de consolidar minha obra, para que essa sim, pudesse sobreviver.
E já que me lembrei de Torquato Neto, vamos então ao que interessa:
Torquato Pereira de Araújo Neto, nasceu em Teresina em 09 de novembro de 1948. Um dia após o seu aniversário, ao completar 28 anos, na madrugada, o poeta piauiense suicida-se no banheiro, vítima de envenenamento com gás de cozinha. Torquato, sem demonstrar nenhuma aflição ou algum problema de nervosismo, conversa tranquilamente com sua mulher, até que esta, dizendo-se cansada vai dormir. O cheiro forte de gás incomoda e ela acorda e corre e vai ao banheiro onde encontra Torquato sem vida e a seu lado um bilhete em que dizia: "Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar". Thiago era o filho de dois anos de idade. Foi um dos nossos maiores letristas escrevendo versos para Caetano Veloso, Gilberto Gil e Edu Lobo. Alias, uma de suas últimas letras musicadas por Edu Lobo dava sinais de premonição. Seria “Pra Dizer Adeus”, em que diz: “Adeus\Vou pra não voltar\E onde quer que eu vá\Sei que vou sozinho\Tão sozinho amor\Nem é bom pensar\Que eu não volto mais\Desse meu caminho\Ah, pena eu não saber\Como te contar\Que o amor foi tanto\E no entanto eu queria dizer\Vem\Eu só sei dizer\Vem\Nem que seja só\Pra dizer adeus”
Torquato Manteve íntimo interesse pelo cinema marginal, atuando como ator e produzindo filmes. Flertara antes com o cinema novo, roteirizando e trabalhando na produção de "Barravento" (1962), filme de Glauber Rocha. Formou com Caetano Veloso e Gilberto Gil a santíssima trindade do tropicalismo. Toninho Vaz, na biografia de Torquato "Pra Mim Chega" (Casa Amarela, 2005), diz: "De todos os tropicalistas, Torquato era o menos conhecido. Sua importância para o movimento está numa razão inversa à sua popularidade, pois ele foi um tropicalista de primeira hora, junto com Caetano e Gil. Muito desse anonimato, entretanto, se deve a ele mesmo, que, como bem disse Augusto de Campos, deu as costas ao sol". Agora, o jornalista Kenard Kruel, também piauiense, lança edição revista e ampliada (das 622 páginas originais, a nova edição vai para 704, com mais textos e fotos) do livro "Torquato Neto ou A Carne Seca É Servida", que sai pela sua Zodíaco Editora.
Logo após a sua morte, Caetano foi a Teresina visitar os pais de Torquato e esse lhe presenteou com uma rosa, a qual Torquato sempre que ia lhe visitar, gostava de cuidar dessa flor. Foi aí a inspiração para a canção “Cajuína”; “Existimos\a que será que se destina?\pois quando tu\me deste a rosa pequenina\vi que eras um homem lindo\e se acaso a sina\do menino infeliz\a que nos ilumina\tão pouco turva-se a lágrima nordestina\apenas a matéria viva era tão fina\e éramos olharmo-nos intactos na retina\da cajuína cristalina em Teresina.”
É dele a letra de “Geléia Geral” e “Louvação”, com Gilberto Gil, “Marginalia II” e “Ai de mim, Copacabana” com Caetano Veloso, “Let's play that” com Jards Macalé e “Go Back” poema musicado postumamente por Sérgio Britto e gravado pelos Titãs. É de sua autoria as frases: "Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela (…). Quem não se arrisca não pode berrar."
Torquato deixou material que foi reunido pela sua esposa Ana Maria Silva Duarte e o amigo Waly Salomão, no livro póstumo: “Os Últimos Dias de Paupéria” (Editora Pedra Q Ronca).
Abaixo, um poema de Torquato Neto.
Cogito
eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.
sábado, 8 de dezembro de 2012
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
AINDA MENINO
Estando
na Semana da Criança, deixo aqui cinco poemas extraídos de meu livro “Ainda
Menino”, (Belô Poético-2002-edição esgotada). Este é um dos livros que mais
gostei de ter publicado, justamente porque ao me propor voltar a minha infância,
a poesia me procurou com naturalidade, as imagens de minha infância surgiram
como numa volta ao tempo e o resto, é apenas um livro publicado.
Também
deixo aqui duas fotos: eu com sete anos de idade, próximo a fazer a primeira
comunhão e eu aos dezoito anos, ao lado de minha mãe, a pianista Glória
Salgado.
AINDA
MENINO
Ainda
menino
acreditada
ser o céu
um
toldo circense
e
a lua à noite
o
abajur que iluminava
este
mundo que era lindo.
As
estrelas eram enfeites
que
cobriam meus sonhos infantis
pirilampos
talvez, vaga-lumes.
A
matemática não passava
de
duas mais duas bolinhas de gude
e
a bandeira não era nacional
nada
mais era do que
galhos
de plantas secas
numa
brincadeira de pique.
Eu
era feliz na inocência
porque
era ainda menino.
A
barba hoje marca esse rosto
os
cabelos enevaram-se
e
os olhos lacrimejaram
e
o que era ainda menino
amadureceu
na rudeza da vida.
Hoje
não sou lá assim
tão
feliz
deixei
de sonhar feito criança
para
ser homem adulto
que
apesar dos açoites cotidianos
não
deixará de ser jamais
ainda
menino.
INFÂNCIA
Quando
garoto
Em
todos os natais, Irene
-
babá da minha infância –
presenteava-me
com um cartão
bem
bonito.
E
os meses se passavam
um,
dois, três... doze
e
este menino aguardava ansioso
pelo
melhor presente
que
nada mais era
que
meras palavras escritas
pela
minha babá, Irene.
Havia
o ano novo
dia
de aniversário
dia
das crianças
mas
nenhum dia era assim
tão
esperado
como
o dia de Natal.
Irene
não escrevera
naquele
ano.
Dias
depois soube
Que
Irene falecera
Por
causa d`uma diabete.
Bem
que eu dissera:
Como
era doce a minha Irene!
NO
TEMPO DO TEMPO DO TEMPO...
Houve
um tempo
em
que ouvia
Ave
Maria.
Minha
mãe ao piano
seus
dedos leves
de
fada
percorriam
teclas
como
quem percorre caminhos
-
Naquele tempo eu era feliz
pois
tinha dentro de casa
a
melhor orquestra do mundo.
Hoje
ao
som de um toca-discos
ouço
a mesma canção
que
me parece estranha
sem
graça
sem
ritmo...
Não
ouço mais...
não
mais permito que desentoem
meus
sentimentos de criança!
FOTOGRAFIA
NA PAREDE
Dolorido
é saber
que
as lembranças voltam:
o
tempo não!
AINDA,
MENINO
(TENTATIVA
DE COMPOR UM HAI CAI)
Cresci,
sim
mas
a infância esqueceu
de crescer dentro de mim.
sexta-feira, 2 de março de 2012
Caso Igor Xavier*

Dez
anos de impunidade e descaso das autoridades
Dez anos depois, os assassinos confessos do
bailarino Igor Xavier – o fazendeiro Ricardo Athayde e seu filho Diego
Rodrigues Athayde – continuam soltos. A impunidade revolta familiares e
população de Montes Claros. (...)
Igor, de 29 anos, foi assassinado de forma
covarde e cruel no dia 1º de março de 2002 com cinco tiros. Os primeiros
disparos foram feitos pelo filho, depois de chegar ao apartamento do pai e
surpreendê-lo na companhia do bailarino. Demonstrando frieza e premeditação,
eles executaram a vítima com mais dois tiros na cabeça. Em seguida abandonaram
o corpo em uma estrada entre Montes Claros e São João da Vereda. Os assassinos
são de família tradicional e de políticos influentes.
Ricardo Athayde é irmão do ex-secretário
adjunto estadual da Fazenda e subsecretário de Assuntos Internacionais da
Secretaria de Desenvolvimento do . Estado de Minas Gerais, Luiz Antônio
Athayde. Eles também tiveram proteção do prefeito de Montes Claros na época,
Jairo Athayde, de quem Ricardo é primo. Além disso, os assassinos têm para
defendê-los uma bancada dos mais famosos advogados do país, entre eles o
secretário de Estado de Defesa Social, Maurício Campos Júnior. O que mais
revolta a opinião pública, especialmente à mãe de Igor, Marlene Xavier, é o
fato de Igor Xavier ter sido morto devido à sua orientação sexual. O próprio
Ricardo Athayde declarou, em depoimento à policia, que odeia homossexual. (...)
O brutal assassinato mobilizou a cidade e teve
repercussão internacional. O poeta e agitador cultural Aroldo Pereira lembra
que no primeiro momento foi realizada uma grande manifestação saindo da Praça
da Matriz em direção ao Forum. O sociólogo João Batista de Almeida Costa, o
Joba, esteve com Igor uma hora antes de ele ser assassinado. “Igor Xavier era um excelente ator,
bailarino e um coreógrafo promissor.” Relata. Os assassinos puseram fim à
vida de alguém que sempre se preocupou com questões sociais e com a difusão dos
bens culturais. Igor Xavier era um artista tão comprometido com a população da
dança na cidade que se apresentava gratuitamente em qualquer lugar – ônibus,
paradas de coletivos, supermercados, praças de bairros, faculdades, escolas,
ruas, cadeia pública e muitos outros.
Após o bárbaro assassinato, várias ações
tomaram conta das ruas e do cenário cultural de Montes Claros. No sétimo dia,
por exemplo, quase 30 mil pessoas fizeram manifestação de repúdio, a maior da
história de Montes Claros. Como prova do envolvimento da sociedade em prol de
justiça, vários publicitários cederam e fizeram gratuitamente outdoors que
manifestavam opiniões sobre o acontecido. Em um deles, vinha a inscrição: “Que a justiça não se enlameie com o poder
da família dos assassinos de Igor Xavier. Não à impunidade.”
Decisão de Juiz protege os assassinos
O brutal
crime fez ecoar o grito de justiça por toda Montes Claros, Minas Gerais, Brasil
e pelo mundo afora. Só não foi ouvido pela justiça, que por causa do poderio
econômico e político dos assassinos, não se move. É cúmplice na tentativa de
defesa de fazer o tempo correr para que o crime prescreva. O julgamento foi
marcado várias vezes e adiado. No dia 20 de setembro de 2011, o desembargador
Reinaldo Porta Nova bateu o martelo, acatando pedido da defesa dos assassinos
de Igor Xavier, mediante representação do Tribunal do Júri e da Vara de Execuções Penais
de Montes Claros, Antonio de Souza Rosa. Num ato de extrema benevolência, o
magistrado pediu o desaforamento do processo para a capital mineira, alegando
que a mãe da vítima, Marlene Xavier, é uma ameaça à integridade física de
Ricardo e Diego Athayde. Ao interpretar que a mãe e o clamor popular poderiam
influenciar os jurados caso o julgamento fosse realizado em Montes Claros, o juiz
inverteu os fatos, transformando Ricardo e Diego em vítimas que precisam ser
protegidas. Para piorar, não há data estipulada para o júri.
“Que poder diabólico é esse que eu não sabia que
tinha? Até hoje
eu pensava que só sabia amar. É por amor que choro a morte do meu filho.” desabafa Marlene Xavier. “Não tenho como levar meus amigos a Belo
Horizonte, mas tenho certeza que aquele tribunal estará tão cheio de anjos que
mal haverá lugar para os que serão obrigados a comparecer.” disse. Para os amigos, desde o inicio a
justiça tem se omitido sobre o caso.
“A vizinha ouviu os tiros por volta das 2 horas e
ligou para a polícia, mas ninguém apareceu. Só depois das 6 horas da manhã
chegou uma viatura. Nesse momento nós já sentimos a influência política.”, desconfia Aroldo Pereira.
Para a
mãe, está ocorrendo uma infâmia. “Desde o
inicio o caso foi tratado com grande descaso pelos poderes públicos. Não sei se
chegarei a ver a solução desse caso, mas gostaria de viver até conhecer um juiz
que fosse idôneo e corajoso o bastante para enfrentar essa corja, fazendo valer
o óbvio e não dinheiro e poder.” diz,
indignada.
*(Extraido
do jornal “Daqui”, de Montes Claros – Ano IV – nº 20 - 20 de fevereiro a 05 de março)
Na noite
do dia 29 de fevereiro, um dia antes de se completar 10 anos do brutal
assassinato, artistas do Norte de Minas e de belo Horizonte se reuniram no
teatro da Assembléia Legislativa em um ato por justiça, por Igor Xavier.
Participaram do espetáculo “Arte Contra a Impunidade – Tributo ao Bailarino
Igor Xavier” os artistas Helena Soares, Jovino machado, Aroldo Pereira, Simone
Xavier, Patrícia Giseli, Carlos Farias, Geovanni Sassá, Makely Ka, Gilberto de
Abreu, Wilmar Silva, Márcio Levy, Wagner Torres, José Edward Lima, Pablo Leite,
Rogério Salgado, Brenda Marques, Wellington Kalil, Ênio Poeta, Bianca Luar, Yan
Guedes, Rosa Helena, Anelito de Oliveira e Diego Kartz.
Veja
fotos tiradas pela jornalista Brenda Marques Pena, presidente do Instituto Imersão
Latina, que também participou do espetáculo, em: HTTP://imersaolatina.ning.com
MEU
CARINHO E RESPEITO A ESTA MULHER, SÍMBOLO DE RESISTÊNCIA E LUTA POR
JUSTIÇA, MARLENE XAVIER, PELO DIA 08 de
MARÇO, DIA INTERNACIONAL DA MULHER.
sábado, 7 de janeiro de 2012
Saudades de Zanoto
Dia 21 de janeiro faz exatamente um ano que perdemos o maior divulgador de poetas que este país já teve. Neste dia em 2011 falecia o conhecido colunista literário José de Souza Pinto, mais conhecido como Zanoto. Ele foi uma pessoa que marcou sua passagem por este mundo. Nasceu em Varginha, filho do português Antônio de Souza Pinto, um dos três irmãos que fundaram o Armazém Souza & Pinto Ltda. e assumiram o Hotel Megda (Hotel Maduro), em frente a estação ferroviária, quando aquela região era o centro econômico-financeiro de Varginha.Zanoto era apaixonado pela literatura. Durante cerca de 42 anos escreveu a coluna “Diversos Caminhos”, no Jornal Correio do Sul. Presidente de honra vitalício da Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências (AVLAC). Colaborava com veículos literários de vários estados e países. Recebeu comendas e homenagens pelos textos que redigia e pela saudável teimosia em publicar, diariamente, uma coluna literária. Participou como jurado do Festival de Poesia Falada de Varginha em 2007 e 2009. No primeiro ano recebeu "homenagem" especial pelos 40 anos dedicados a literatura brasileira através do empreendedor do projeto Tadeu Terra e dos produtores e colunistas sociais/culturais Marcos Misael e Lindon Lopes.Tinha outro hábito saudável, de caminhar tranquilamente pelas ruas da cidade, onde buscava inspiração para seus textos. Me disse, uma vez, que levava os textos, datilografados, a pé até o jornal.Zanoto era fã de Fernando Pessoa. Um apaixonado pela palavra (“Ela é mulher”, dizia).Gostava de literatura, música, um bom vinho.
Em 2010, no meu livro “Poemas” (Belô Poético) publiquei um poema dedicado para este amigo que eu tinha a mais de 18 anos e no dia 20 de agosto de 2010 ele publicou em sua coluna “Diversos Caminhos” um poema dedicado a mim. Reproduzo abaixo os dois poemas e deixo aqui registrado minha saudade.
Jardim Amor
Para Zanoto
Uma cena cinematográfica
faz-se raiz
entre um cinemascope
e uma cena @
um filme de Neville d’Almeida
diz-me que plantar sementes
seria criar um jardim
no coração de quem amo.
(Rogério Salgado)
A lua
(Para o poeta Rogério Salgado, em Belo Horizonte)
Não... A lua não era
um tesouro.
Riscava no espaço azulado
o meu destino.
Eu tinha fome
de risos e
alegria.
Mas perdi-me no
fascínio do mundo.
(Zanoto)
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