sábado, 7 de dezembro de 2019

ONDE ESTARÁ JOSÉ BOAVENTURA MALHEIRO DE CARVALHO, CIDADÃO BRASILEIRO?




O mundo perdeu no último mês de novembro de 2019, o Rabino Henry Sobel, um dos defensores dos direitos humanos na Ditadura Militar Brasileira. Quando em 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado nas dependências do DOI-CODI pelos torturadores militares, os quais forjaram suicídio por enforcamento, Sobel não aceitou a versão de suicídio e autorizou o sepultamento no Cemitério Israelita do Butantã, seguindo os ritos judaicos (o jornalista era judeu) e não admitindo que ele fosse sepultado na ala dos suicidas. Naqueles anos de falta de liberdades, os torturadores sempre forjavam suicídio e acidentes para encobrir seus assassinatos.
Um desses possíveis assassinatos teria sido o cidadão brasileiro, José Boaventura Malheiro de Carvalho, que trabalhava vendendo jóias e por isso viajava bastante. Segundo a esposa de José Boaventura, ele tinha livros sobre Comunismo e Marxismo e era militante da esquerda, o que para época, pode ter sido um indício do seu desaparecimento ocorrido em 1972. Foram feitas pela família, várias tentativas para localizá-lo, inclusive uma viagem a Portugal, sua terra Natal. A irmã de José, localizada em Portugal por familiares, também não tinha notícias do seu paradeiro, o qual até os dias atuais ainda é um profundo mistério.
Em pesquisa no Google, a família encontrou um documento com uma ocorrência no DOPS em São Paulo, datado de 11 de maio de 1973, no qual diz que: “(...) faz saber ao réu José Boaventura Malheiro de Carvalho, filho de Antonio José de Carvalho e de Noêmia Malheiro da Luz C. da Silva, casado, branco, com 40 anos de idade, residente a Rua Av. Presidente Vargas, 134, 2ª, Belém do Pará, pelo presente edital com o prazo de quinze dias, que fica citado para comparecer no dia 28 de maio de 1972, as 10 horas na sala n. 206 de audiências desse juízo, no Palácio da Justiça, a Praça Clóvis Henrique, 2º andar, a fim de, sob pena de revelia, ser interrogado sobre acusação que lhe é feita como incurso no artigo 168 parágrafo 1º - inc. III (...)” Coincidentemente, José Boaventura Malheiro de Carvalho desapareceu misteriosamente em 1972, sem deixar possíveis vestígios. 
José Boaventura Malheiro de Carvalho é somente e apenas mais um desaparecido nos anos em que o Brasil viveu sem liberdades, sob censura até aos nossos pensamentos, nos quais uma simples suspeita era motivo para prisões, torturas e assassinatos (lembremos, por exemplo, do AI-5).
O que mais deve doer atualmente na alma dos familiares de pessoas como José Boaventura Malheiro de Carvalho, é termos um governo que elogia o que eles chamam de “Revolução de 64” e chamam assassinos e torturadores, tais como o Coronel Brilhante Ustra, condenado por tortura em seres humanos, de herói nacional. Algo me diz que vivemos hoje, numa democracia camuflada. Fica então a pergunta: em qual oceano ou cemitério clandestino podemos encontrar tantos desaparecidos, tais como José Boaventura Malheiro de Carvalho, cuja família ainda espera poder dar um enterro digno e cristão ao que lhe resta. Possivelmente essa será mais uma pergunta sem respostas.

Foto: Arquivo da família

terça-feira, 12 de novembro de 2019

“Exercícios de Partida (Metáfora Clandestina)” de Rogério Zola Santiago



Antes de ser o poeta, escritor e jornalista que é, Rogério Zola Santiago é, antes de tudo, um grande ser humano. Se hoje o escritor alternativo tem algum espaço em eventos mineiros, antes só aberto aos convidados consagrados, tais como a FLI-BH, deve-se a luta desse cara quando eleito Conselheiro Municipal de Cultura, no qual eu, que nunca havia saído de casa para votar em alguém, por não acreditar neste sistema, depois de dez anos realizando na capital mineira, o Belô Poético – Encontro Nacional de Poesia, evento este de reconhecimento internacional, sem apoio de nenhum órgão público, compareci a eleição dos conselheiros e votei nele. Foi a única vez que votei em Conselheiros Municipais de Cultura.
Agora Rogério Zola Santiago lança “Exercícios de Partida (Metáfora Clandestina)” (Páginas Editora). A obra, que traz um diálogo de diferentes linguagens e referências, apresenta diversos olhares sobre a morte e a vida. A meu ver, uma colcha de retalhos muito bem escrita, muito bem estruturada literariamente, trabalho esse que, segundo o autor, teve 30 anos de maturação e revisão. Em suas nuances, o autor consegue realizar uma inovação de linguagem, mas com a responsabilidade da licença poética a seu favor, numa obra envolvente, feita de memórias afetivas como sua matéria-prima. O livro com traduções em inglês de Lloyd Schwartz, ganhador do prêmio Pulitzer de Crítica, conta com fotografias e reproduções de obras de arte de artistas como Angela Geo, Ana Amélia Diniz Camargos, Enezila Campos, Eymard Brandão, Giuletta Santino, Inimá de Paula, Joana Scharlé de Vasconcelos, Márcio Zola Santiago e Yara Tupinambá, que dialogam com as memórias do autor. As fotos antigas estão emolduradas no livro, pela arte de Angela Geo.
Rogério Zola Santiago é Mestre em Comunicação (Jornalismo e TV) pela Indiana Univesity (EUA), crítico de arte, professor universitário, e autor de outras obras, como “Draga”, “Fragatas e Silêncios”, “Terra Brasilis” e “Tudo sobre a Falta de Educação”.
Segundo o autor em material de divulgação do livro: “Iniciei o livro em 1986, quando escrevi uma série de poemas em cima de um livro do João Cabral de Melo Neto. Há quarenta e três anos elaboro este lançamento. E parece que Deus perpetrou que eu passasse por perdas relevantes de entes queridos. Transformei as emoções dessas avarias em poesia, daí meus (nossos) “Exercícios de Partida.  (...)”
Alguns críticos, na parte "Diálogos", opinaram que a obra possui um aspecto didático, pois os poemas são acompanhados dos comentários a seu respeito.
Créditos das fotos: Juliano Moraes, Rogério Zola Santiago, Danilo Oliveira, Valdez Maranhão, Anna Castelo Branco e Ilana Lansky.
“O livro é pautado em fatos profundos retratando, entre outras, a história narrada pela professora da UFMG, Ione Grossi, torturada na ditadura. Assim como o assassinato da famosa modelo Ana Paulina, nos anos 70, que morava ao lado de nossa casa em um prédio que foi invadido pelos militares. Não têm como falar que não existiu ditadura. Perguntam como transformo estes fatos em poesia, mas, consegui. Minha poesia é prosa ritmada, mas prosa também pode ser poesia e, dessa forma, ocasionamos inovações. (...)”
“Exercícios de Partida (Metáfora Clandestina)” é um livro envolvente do inicio ao fim. Recomendo, com toda certeza.

sábado, 28 de setembro de 2019

25 ANOS DA MORTE DE SÉRGIO SAMPAIO, UM DOS GÊNIOS ESQUECIDOS DA NOSSA MPB



Maldito, por ser autêntico e não se vender a máquina musical, como o personagem da peça “Roda Viva” de Chico Buarque de Holanda, Sérgio Sampaio caso fosse vivo, estaria com 72 anos, neste 2019 em que se comemora 25 anos de sua morte.
Talvez um dos cinco mais importantes compositores brasileiros de todos os tempos, Sérgio Sampaio foi pouco valorizado quando ainda estava entre nós.
Nascido na mesma cidade natal do Rei Roberto Carlos, em Cachoeiro do Itapemirim\ES, em 13 de abril de 1947, Sérgio Moraes Sampaio, filho do maestro da banda de música e fabricante de sapatos Raul Gonçalves Sampaio (1900-1992) e da professora primária Maria de Lourdes de Moraes (1916-1990), teve infância humilde, na casa nº 65, da Rua Moreira. Na infância, ouvia no radinho de sua mãe, Nelson Gonçalves, Ademilde Fonseca e outros.
Suas composições passam por vários estilos musicais, indo do samba, choro, rock, blues e baladas. Em sua poética vêem-se elementos de Kafka e Augusto dos Anjos, que lia e apreciava. No dizer do cantor/compositor Lenine, Sérgio Sampaio foi um nome marginalizado que equipara a Tim Maia e Raul Seixas, como um dos malditos da Música Popular Brasileira.
No final de 1967, foi com a cara e a coragem para o Rio de Janeiro, tentar a vida como artista. Na cidade maravilhosa conheceu Raul Seixas, então produtor musical da CBS, que sentiu seu talento e lhe abriu as portas. Além de vários compactos simples e duplos, em 1971 participou de um disco revolucionário, ao lado de Raul, Edy Star e Miriam Batucada, intitulado “Sociedade da Gran Ordem Karvenista apresenta sessão das dez”, gravado quando os diretores da gravadora estavam viajando e retirado do mercado após a volta dos mesmos.
Em 1972, Sérgio ganhou fama nacional com a participação no Festival Internacional da Canção, com a marcha-rancho “Eu quero é botar meu bloco na rua”. Neste mesmo ano lançou pela Phonogram, o LP homônimo, que fez bastante sucesso. Em 1976 saiu pela Continental, seu segundo LP “Tem que acontecer”. De temperamento forte e difícil, além de boêmio inveterado, teve a portas fechadas pelas gravadoras, tornando-se mais um dos chamados popularmente de “malditos”. Em 1981, enquanto Erasmo Carlos comentava com amigos numa mesa de bar, sobre seu próximo disco cujo tema seria a mulher, Sérgio, já bastante embriagado, ouvia atentamente tudo. Semanas depois, procurou Erasmo e lhe apresentou uma nova composição intitulada “Feminino Coração de Deus”, uma das mais belas pérolas da nossa MPB, que foi prontamente gravada por Erasmo em seu disco.
Em 1982, financiado por amigos e pela família, lançou independente o LP “Sinceramente”, que teve pouca vendagem e boas críticas.  Com a falta de perspectivas, ganhou a vida fazendo esporádicos shows com a ajuda de amigos.
No começo de 1994, foi convidado pelo selo independente Baratos Afins para gravar um disco de inéditas, o que o deixou muito feliz. Mas às cinco horas da manhã do dia 15 de maio daquele ano, veio a falecer por causa de uma pancreatite, devido à vida desregrada a álcool em que vivia.
Em 1998 o compositor Sérgio Natureza produziu o CD “Balaio do Sampaio” com participações do próprio cantando “Eu quero é botar meu bloco na rua” e participações de Chico César, Erasmo Carlos, João Bosco, Zeca Baleiro, Zizi Possi, Lenine, João Nogueira, Eduardo Dusek, Renato Piau, Jards Macalé, Luiz Melodia e Elba Ramalho. Em 2005, Zeca Baleiro produziu o CD póstumo “Cruel”, com músicas inéditas.
Considerado um dos maiores gênios musicais da nossa MPB, Sérgio Sampaio está sendo redescoberto por quem aprecia o melhor da música brasileira. No livro “Eu quero é botar meu bloco na rua - biografia de Sérgio Sampaio” (Edições Muiraquitá-2000), escrito por Rodrigo Moreira, hoje raridade, mas que poderá ser encontrado nos melhores sebos do país. O escritor e jornalista Caio Fernando Abreu, numa crônica publicada em 24\07\1994 no jornal O Estado de São Paulo, definiu: “Sérgio era um pós-tropicalista, uma espécie de elo entre Mutantes, Tom Zé, e o que de melhor veio depois – Cazuza, Lobão, Ângela Rorô, Raul Seixas, que ele adorava, todos sofreram sua influência. Gravou três ou quatro LPs malditos, era rebelde demais para se sujeitar à caretice das gravadora. (...) Como Torquato Neto, é uma figura perfeita para ser ressuscitada, mitificada e, claro, vendida. No além, Sérgio vai rolar de rir...”
Hoje, Sérgio Sampaio é regravado por cantores que buscam suas canções.
E nas comemorações de 25 anos de sua saída deste mundo, nosso protagonista será fruto de um filme sobre ele pelo cineasta Hugo Moura, que há cinco anos pesquisa material para o documentário “Sinceramente Sérgio”, em alusão ao título do derradeiro disco do cantor, de 1982. A idéia é que o próprio protagonista conduza a narrativa, com músicas e depoimentos registrados em gravadores caseiros, que trazem reflexões existenciais, políticas e até sobre o corpo do compositor: “A magreza dele é um fato que chocava as pessoas e, nessas fitas que encontrei, ele comenta que era apenas uma questão de biótipo.” Comenta o cineasta Moura. “Tem muita coisa da década de 70 que vai surpreender os fãs. O Sérgio sempre foi um cara muito independente, que ficou meio de canto na música brasileira.” Afirma Moura. “Ele não se dobrava as vontades comerciais das gravadoras. Foi um cara meio cigano, que morou na casa de dezenas de pessoas. Em 1974, ele ganhou o Troféu Imprensa de revelação do ano e, até hoje, este troféu está num bar no Espírito Santo, porque ele deixou lá e nunca mais voltou para buscar.” Completa o cineasta.
Hoje, quem toma conta do espólio de Sérgio Sampaio é João Sampaio, filho único do compositor, fruto de sua relação de cinco anos com a arquiteta Ângela Breitschaft.
E quem quiser conhecer mais a fundo à genialidade de Sérgio Sampaio, é só buscar no yourtube o que há de melhor desse cara.



sábado, 3 de agosto de 2019

HELENICE MARIA REIS ROCHA - HOMENAGEM



Começou a escrever poesia aos 7 de idade. Declamava para as professoras do colégio os seus versos e escrevia no quadro negro também. Explicava para as professoras o que entendia que era linguagem poética. Foi seguindo assim até os 11 anos, quando começou a estudar pintura com o professor Claudionor Cunha, impressionista mineiro. Com 13 anos começou a estudar violão clássico com o professor Nelson Piló, assistente de Heitor Villa Lobos. 1964 explode o Golpe Militar.  Seu pai estava junto com a Sociedade Mineira de Concertos Sinfônicos, tocando o Concerto de Villa Lobos para harmônica e orquestra. Isto aconteceu antes dela conhecer estes mestres. Tinha 9 anos. O Professor Nelson Piló a preparou quatro anos para um concurso de jovens instrumentistas. Lhe deu para estudar uma peça de Anton Logy, que ele disse ser anônimo e ter produzido uma Obra Prima. 1975 entra na Faculdade de Letras da UFMG. Clima de medo. Se lembra de ter tentado assistir a uma palestra e a Universidade estar cercada por policiais. Em 81 foi eleita líder do Diretório Acadêmico. Apoiou a Quarta Internacional, que era trotskista e a OSI. Quebraram a Gráfica dos estudantes. Se tivessem encontrado textos da Quarta Internacional lá, poderiam ser todos presos. .Era clandestina. Passou alguns anos dedicada à Artes Plásticas. Fez Mestrado em Poesia. Apresentou vários trabalhos na ABRALIC. Publicou trabalhos teóricos e voltou à Poesia. Publicou em várias Antologias, no Brasil e no Chile. Sobreviveu quase sem recurso nenhum, junto à Sociedade Civil Organizada. Ainda sonha com um Projeto Socialista.
Mestre em Letras, Poéticas da Modernidade (UFMG). Especialista em Música, Educação Musical (UFMG). Cônsul do Movimento Internacional de Poetas Del Mundo. Cônsul da Associação Internacional de Poetas Del Mundo. Embaixatriz do Círculo de Embaixadores da Paz de Genebra. Membro Correspondente da Academia de Letras de Araraquara. Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.
Uma das autoras, junto com Biláh Bernardes, Irineu Baroni, Petrônio Souza Gonçalves e Rogério Salgado do livro “AI-5” (Baroni Edições – 2016). Participou de diversas coletâneas. Sua participação mais recente foi no livro: “Cem Poemas – Cem Mil Sonhos”, homenagem aos 50 anos de passeata dos cem mil, maior manifestação popular contra a ditadura militar no país, organizado por Rodrigo Starling.
Faleceu dia 31 de julho de 2019, deixando um vazio no mundo da poesia.

SOL

Eis que faliram os desígnios de morte
e a gota de sangue que batiza o cristal
se fez flor
Naqueles tempos tudo era sombra
Mas o sofrimento purifica
dizia meu pai
e Oscar Wilde também
não há prisões para o espírito
dizia meu pai
e ficávamos naquele escritório
docemente sombrio
fazendo Análise Musical
Bach, Stravinsk, Khulau, Zanetovich
presos, de madrugada
e livres
ninguém nos alcançava
desprezávamos os exércitos de loucos  

(Helenice Maria Reis Rocha)

Poema e foto: arte Biláh Bernardes


quinta-feira, 13 de junho de 2019

CONFRARIA DE POETAS BELO HORIZONTE



"O abraço liberta o abraçador, porque no ato de abraçar ele se expõe, se entrega. Quem abraça desnuda a alma, coloca os pés no chão sem vergonha de estar descalço e se livra das barreiras e dos medos, dos orgulhos e dos recalques, porque oferece o que há de mais íntimo e profundo: o seu corpo para acolher o outro". (Maria Dolores)

Desde a década de 70, quando surgiu o Movimento Marginal, em que poetas em plena ditadura, buscavam espaços para levar poesia às pessoas, sem ter de se mostrar a censura prévia. Daí surgiu a Geração Mimeógrafo, em que poetas faziam livros mimeografados e os vendiam em portas de teatro, etc. Eu mesmo participei em 1979, em Campos dos Goytacazes\RJ, minha terra natal, de um movimento em que recitávamos poesia, além de escrevermos nossos versos e pregarmos nas calçadas nas conhecidas “folhas de papel de embrulho”, para que todos lessem, isso no Boulevard Francisco de Paula Carneiro, mais conhecido como a “Rua dos homens em pé”.
No Rio de Janeiro surgiu em 1984, o "Projeto Cultural Passa na Praça que a Poesia te Abraça", tendo como um dos seus criadores, o poeta Douglas Carrara, na época com 41 anos de idade e hoje aos 68. Cada domingo um grupo obstinado de poetas aterrisava numa praça do Rio, principalmente naquelas que não tinham tido contato com este tipo de experiência e se tinha abraço apenas no nome do projeto ou entre os mais íntimos, pelo menos os poetas recitavam seus versos para quem passava pelo local. Infelizmente em 1988, o grupo paralisaria suas atividades.
Em Belo Horizonte surgiu uma rapaziada que anda fazendo acontecer: trata-se dos poetas Irineu Baroni, José Hilton Rosa e Márcia Araújo, que criaram a Confraria de Poetas Belo Horizonte e hoje estão fazendo história, levando a poesia até as pessoas, mais até do que aqueles famosos que escrevem e esperam em casa, o próximo prêmio máximo de literatura brasileira.
A Confraria de Poetas Belo Horizonte tem como norte em suas ações: planejar, debater, executar ações, tais como saraus, participações em eventos, que motivem as pessoas a mergulhar no mundo da literatura, em especial da poesia.
Em janeiro deste ano foi realizada  a 1ª Edição do Projeto "Abrace um Livro". Uma proposta do poeta Irineu Baroni, que a Confraria prontamente abraçou. O projeto consiste na troca de um livro por um abraço, nada mais justo numa época em que impera a violência, a discórdia política e esportiva e uma insegurança num mundo onde poucas pessoas tem a capacidade de dar um simples abraço no seu próximo. Os livros, na maioria das vezes doados, são distribuídos pelos poetas, de maneira totalmente gratuita. Abraço é um sentimento que a poesia também desperta em quem a acolhe, por isso a ideia de unir abraço e poesia.
Segundo seus idealizadores: “Em  tempos onde abraçar é um ato cada vez mais raro, no máximo conseguimos dar um tapinha nas costas, quando não um "oi virtual", queremos que as pessoas retomem o gosto pelo abraçar e ser abraçado, além de incentivar a leitura.”
Até agora já foram realizadas as edições "Abrace um Livro" em janeiro no Parque Ecológico da Pampulha; em março no Aniversário dos Arautos da Poesia, em Sabará\MG; em maio no Centro Cultural São Geraldo, no qual fui convidado a estar junto com eles e no Aniversário do Parque Ecológico da Pampulha. A próxima edição será realizada este mês de junho na Escola Municipal Wladimir de Paula Gomes.
A idéia foi jogada nas ruas, que se copiem, reproduzam e se abracem cada vez mais, mas justiça seja feita, o primeiro abraço belorizontino em troca de um livro foi dado por essa rapaziada da Confraria de Poetas Belo Horizonte. Esse mérito ninguém tira deles.
Além do projeto "Abrace um Livro", a Confraria de Poetas Belo Horizonte também teve
participações no 2º Beagá Psiu poético; no evento ELAS, no dia internacional da mulher e vamos aguardar que muitas novidades virão por aí.
marciasar2007@yahoo.com.brProcure no Facebook: Confraria de Poetas Belo Horizonte.

Fotos: Ariadne Lima

sexta-feira, 26 de abril de 2019

ROGÉRIO SALGADO E A REVISTA ARTE QUINTAL



Por Eduardo Waack *

Muito já se comentou e escreveu sobre o poeta Rogério Salgado. Homem do povo, de hábitos simples e cordiais, sua vida espelha sua obra. Ao longo das últimas quatro décadas, seu nome é uma constante nas manifestações culturais de nosso país. Seu livro de estreia, “Tontinho”, foi publicado em 1982, e a partir daí uma série de lançamentos edificaram um caminho que é vasto e acessível, inspirado e acolhedor. Pois Rogério já pregava, em Meio Termo: “Entre o ser lúcido / e o ser pirado / pô, baby /prefiro ser inspirado”.
Em sua aplaudida produção destacamos o recente “Naqueles Tempos da Arte Quintal” (2018), onde ele resume a trajetória da revista Arte Quintal, importante expoente do movimento literário independente criado por ele, Ecivaldo John e Virginia Reis em 1983, e que teve a adesão de Wagner Torres. Naquele tempo em que a internet, sites & blogs, redes sociais não existiam, nós escritores divulgávamos nosso trabalho através de cartas enviadas pelo correio aéreo (que a gente postava e não tinha certeza se chegariam ou não), cartazes e mostras artesanais, e algumas poucas publicações mimeografadas ou xerocadas. Essas eram vistas como um farol a nos iluminar e guiar, indo na contramão dos grandes veículos de comunicação dominados pelo sistema.
A revista Arte Quintal existiu até 1992, e em seus dez números abrigou uma constelação de músicos, escritores, poetas, cineastas, artistas-plásticos em geral e livre-pensadores. Ali, o consagrado e o iniciante conviviam lado a lado, numa rara comunhão. Eu mesmo fui assinante dessa revista que de certa forma influenciou minha trajetória ao criar o jornal O Boêmio em 1991 — com intensa participação de Rogério Salgado. Aí está o mérito desse livro: resgatar um momento heróico em que certos poemas eram escritos com sangue e gravados a ferro e fogo, indeléveis, na alma de cada leitor.
O Brasil atravessou uma feroz ditadura, diluiu-se nas regras do mercado financeiro internacional e chafurdou no lamaçal da corrupção que ainda hoje nos assola. Mas o exemplo daqueles meninos permanece a reverberar as palavras de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Após o lançamento de “Naqueles Tempos da Arte Quintal”, volume que inclui o livro de poemas “Baú de Memórias”, o inquieto Rogério nos entregou outras preciosidades, como “Glória”, livro dedicado ao centenário de nascimento de sua mãe, a pianista Glória Salgado. E agora participa da antologia “Cem Poemas, Cem Mil Sonhos”, homenagem aos 50 anos da Passeata dos Cem Mil (a maior manifestação popular contra a ditadura militar no país, realizada em 1968 no Rio de Janeiro).
Rogério Salgado é o homem certo no local certo, pois ele faz e não espera acontecer. Sua poesia espontânea e ao mesmo tempo culta, suas realizações como os prestigiados Belô Poético (Encontro Nacional de Poesia), In/Sacando a Poesia e Poesia na Praça Sete, que reuniram multidões, e seu apoio às causas políticas e libertárias fazem dele um dos grandes visionários de nossa época, espírito generoso e iluminado, coração aberto, sem trancas, simpático. Não espere encontrá-lo em sofisticados eventos sociais ou no falso glamour das panelinhas excludentes. Poeta popular, a rua é o seu meio, e a verdade a sua meta. Sem meio termo.

 * Eduardo Waack* é jornalista e escritor, autor de “Canções do Front”, poemas, 1986. Reside em Matão-SP.

*Na foto ao lado de Anderson Ricardo, um dos admiradores do poeta Rogério Salgado.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

“CEM POEMAS, CEM MIL SONHOS” - Homenagem aos 50 anos da Passeata dos Cem Mil: maior manifestação popular contra a Ditadura Militar no país”


Por Rogério Salgado

“Mataram um estudante. Podia ser seu filho”

Apesar de mais de 40 anos de carreira literária e mais de 30 livros publicados, considero dois livros que foram divisores de águas na minha carreira literária: em primeiro “AI-5” (Baroni Edições), livro lançado dia 13 de dezembro de 2016, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, dia este em se comemorava (se é que um ato perverso como esse se poderia comemorar) 48 anos daquele que foi o pior acontecimento acontecido neste país, em seus 619 anos de invasão (Cabral invadiu essas terras. Não se descobre uma terra onde já havia habitantes). Este livro, idéia criada por mim e o poeta Irineu Baroni, que criou a capa e o projeto gráfico, o livro teve prefácio do ex Deputado Federal Nilmário Miranda e teve além de mim e Irineu, Biláh Bernardes, Helenice Maria Reis Rocha e Petrônio Souza Gonçalves como co autores, tendo como convidados a poeta e artista plástica Neuza Ladeira, uma das vítimas da ditadura e do AI-5; Christina Rodrigues, historiadora, que traçou um perfil histórico da época e Dalva Silveira, escritora e pesquisadora, que fez uma análise sobre a influência do AI-5 na cultura brasileira.
Em segundo,  “CEM POEMAS, CEM MIL SONHOS” - Homenagem aos 50 anos da Passeata dos Cem Mil: maior manifestação popular contra a Ditadura Militar no país” (Starling), livro lançado dia 13 de abril último no Sesc Paladium, em Belo Horizonte-MG, organizado pelo poeta e filósofo Rodrigo Starling, com prefácio da escritora e pesquisadora Dalva Silveira, contendo uma entrevista com o histórico ativista e ex Deputado Federal Wadimir Palmeira, tendo como autores, além de  mim e Rodrigo Starling, os poetas Adilson Quevedo, Aldirene Máximo, Alexandra Magalhães Zeiner, Almir Zarfeg, Ana Sampaio, André Siqueira, Biláh Bernardes, Brenda Mars, Bruno Candéas, Cláudio Márcio, Clevane Pessoa, Edison de Almeida, Elisa de Jesus, Evilásio Júnior, Fabiano Mendonça, Fátima Sampaio, Fernanda Liberato, Helenice Maria Reis Rocha, Hyanna da Cunha, Isabella Bretz, Ismael Rocha, João Evangelista Rodrigues, José Hilton Rosa, Jullie Veiga, Leandro Campos Alves, Luiz D Salles, Luiza Silva Oliveira, Manoel Barbosa, Maria Luiza Mota, Maria Tereza Camargo Regina Moreira, Maria Tereza Penna, Marianne Stoklasa, Mauro Morais, Nando Herrera, Noélia Ribeiro, Odenir ferro, Roger Willian, Ronilson de Sousa Lopes, Rubens Jardim, Tchello D`Barros, Tilden Santiago, Trabion, Viviane Castelleoni e Virgilene Araújo. O livro é dedicado ao estudante Edson Luís de Lima Souto, que aos 18 anos foi assassinado pelo aspirante da PM Aloísio Raposo.
HISTÓRICO 
Para quem não conhece nossa história e poderá não conhecê-la, já que existe um interesse do Ministério da Educação de mudá-la, a Passeata dos cem mil foi uma manifestação popular contra a Ditadura Militar no Brasil. Organizada pelo movimento estudantil, em  junho de 1968, na cidade do Rio de Janeiro, contou com a participação de artistas, intelectuais e outros setores da sociedade brasileira.
Prisões e arbitrariedades eram as marcas do governo militar frente às crescentes manifestações dos estudantes contra a ditadura que se instalara no país, em 1964. A repressão policial atingiu seu apogeu em março de 1968, com a invasão do restaurante universitário "Calabouço", onde os estudantes protestavam contra a elevação do preço das refeições. Durante a invasão, o comandante da tropa da PM, aspirante Aloísio Raposo, matou o secundarista Edson Luís de Lima Souto, de 18 anos, com um tiro à queima roupa no peito.
Diante da repercussão negativa deste e outros episódios, o comando militar acabou permitindo uma manifestação estudantil. Logo pela manhã de 26 de junho, os participantes da passeata já tomavam as ruas da Cinelândia, no centro da capital; A marcha começou às 14h, alcançando rapidamente cerca de 100 mil pessoas. Foi uma das maiores e mais expressivas manifestações populares da história republicana brasileira.
Tendo à frente uma enorme faixa, com os dizeres: "Abaixo a Ditadura. O Povo no poder", a passeata prosseguiu, durante três horas, encerrando-se em frente à Assembléia Legislativa, sem conflito com o forte aparato policial que acompanhou toda a manifestação.

COMO ADQUIRIR
O livro “CEM POEMAS, CEM MIL SONHOS” - Homenagem aos 50 anos da Passeata dos Cem Mil: maior manifestação popular contra a Ditadura Militar no país” poderá ser adquirido ao preço de R$ 28,00 (residentes fora da capital mineira, haverá inclusão de taxa de correios, que com certeza não passará dos
R$ 5,00 através da Starling Consultores Associados (SCA) – pelo Whatsapp +55  (31) 9 9292-9805.
skype: rodrigo.starling1


segunda-feira, 11 de março de 2019

“VAMOS TIRAR O PIJAMA?” DE RENATO VENTURA; UM LIVRO BOM EXEMPLO



Recebi das mãos do autor Renato Ventura, seu livro “Vamos tirar o pijama?” (Páginas Editora), título bastante sugestivo para o qual se propõe o livro.
Composto de 50 relatos, aos quais o autor entitula de “atos”, intercalado por alguns relatos pessoais, os quais aqui se intitulam “intervalos”, o livro aborda aquele que é, sem sombra de dúvidas um dos mais importantes projetos criados neste país nos últimos anos. Trata-se do projeto “Larutan”, que nada mais é do que a palavra natural ao contrário. O “Larutan”, que para uns seria um estilo de vida, nada mais é do que a dança para a melhor idade, o que seu criador faz com o coração aberto e que mereceu em 2016, o Prêmio Bom Exemplo, da Rede Globo Minas, com mais de noventa mil votos.
Em suas 120 páginas, encontramos relatos ora do autor, ora de alunos, que nos mostra a nós, leitores, o bom exemplo desse projeto audacioso, o qual ajudou por exemplo, o Sr. Aristides, que após sofer acidente de carro e tido uma fratura na região do quadril, passou da cadeira de rodas para as muletas e dalí para a bengala. Também da Dona Maria, que foi casada e que o marido a espancava. Ao ficar viúva, encontro neste projeto, seus problemas de saúde e de viver. Essas são apenas duas das personagens, em que o leitor encontrará muito mais nas páginas desse livro.
Renato Ventura com “Vamos tirar o pijama?” não se propõe ser um grande escritor, muito pelo contrário, aqui ele procura ser apenas um ser mais humano e levar aos leitores as experiências de seu revolucionário projeto “Larutan”, para que outros que precisem de ajuda, possam se beneficiar desse trabalho humanitário ao qual vem se propondo realizar.
Reneto Ventura, como bailarino e coreógrafo profissional foi premiado em festivais nacionais e internacionais. É formado em Educação Física e pesquisador da cultura brasileira. Como professor, trabalha há mais de 20 anos com a terceira idade.
“Vamos tirar o pijama?” é um livro exemplo e que precisa ser lido por pessoas de todas as idades.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

“COM O CORAÇÃO NA BOCA” DE VINICIUS FERNANDES CARDOSO



Inicio o ano de 2019 comentando um livro que me marcou muito a sua leitura.
O escritor e poeta Vinicius Fernandes Cardoso traz a público seu “apanhado poético”, com patrocínio do Fundo de Incentivo à Cultura de Contagem. Trata-se de “Com o coração na boca” (Edição do autor).
Vinicius, ora Influenciado por grandes poetas clássicos da literatura brasileira e universal, ora pelos do universo beat; surpreende com uma interessante obra literária. O livro vem dividido em seis trabalhos escritos desde seus 17 anos, que são: “Arroubos e rompantes” (1999), “Leituras e andanças” (2004), “A alma dos bairros” (2007), “Nômade” (2008), “Novos poemas” (2009 em diante) e “Tirando a poesia do asfalto”.
Nesse apanhado poético observa-se que a obra vai se desvendando a cada página, principalmente porque o autor\poeta nos embriaga e inebria com inúmeras pistas de sua trajetória de vida, quase explicitando e desnudando sua alma. Realmente é o que se pode dizer: um trabalho “com o coração na boca”.  Sua escrita, ao mesmo tempo, que apresenta nuances clássicas, se expressa de maneira despojada. Sua poética poderia muito bem considerar-se inacabada, mas no sentido de que muito tem, ainda, a oferecer à nossa literatura. Um intenso sentimento existencial nas entrelinhas dos poemas enche o leitor aos poucos de ‘calmaria e graça’, sem pressa e sem pressão. Os poemas apresentados, principalmente na primeira obra, são ótimos para uma reflexão sobre a nossa literatura brasileira, principalmente aos jovens que buscam uma boa arte poética. A forma como o livro foi dividido (partes que são na verdade, livros completos) não cansa o leitor, mas o emociona com a profundidade vivencial, sentimental e existencial do autor, pois cada um deles representa a época em que foi escrito. Enfim, um trabalho de expressivo valor. Se a dedicatória por si só, se tornou extensa, cabe aqui o que bem disse Leila Miccolis, maior representante do Movimento Marginal Literário Brasileiro, quando afirma que a única coisa que nenhum crítico tem o direito de se manifestar numa obra alheia, é sobre a dedicatória, já que a mesma trata-se de algo muito pessoal do autor, por isso isenta de críticas.
Vinícius Fernandes Cardoso nasceu em Belo Horizonte-MG, em 1983. Em 13 de outubro de 2001, com outros sete criadores literários de Contagem-MG, fundou a Academia Contagense de Letras (ACL). Desde 2004 colabora com o Jornal Regional Contagem.
“Com o coração na boca” é um trabalho bem burilado, inclusive pelo esmero que se nota desde a escolha do papel\miolo, fotografias de capa contracapa e do seu contexto geral. Vale conferir.