
Por Rogério
Salgado
Na minha modesta opinião de leitor voraz, Araken Vaz Galvão se situa
entre os dez melhores cronistas que já li, em toda a minha vivência.
Digo isso depois de ler apenas um livro seu de crônicas. Trata-se de “Crônicas
das prisões e do exílio” (Edições Alba). Suas crônicas, sempre recheadas da
mais pura emoção, falam de coisas vivas, experiências vividas (e vívidas) e que
lhe fez antes de tudo, um Ser Humano. Suas crônicas relatam lembranças, de
amizades sinceras e também não sinceras (os muy amigos), num livro em que uma
crônica se entrelaça a outra, numa seqüência romanceada. Suas reminiscências em
nenhum momento nos apresenta mágoas ou rancores; muito pelo contrário,
mostra-nos muita alegria de viver e segurança em cada narrativa, ao contar
detalhes do que lhe vem à memória.
“Crônicas das prisões e do exílio” é um excelente livro de memórias e
traz referências a pessoas hoje bastante conhecidas, além de pessoas do povo,
desconhecidas atualmente. No livro é citado nomes tais como: Marcos Medeiros,
Maria Lúcia Dahl, Darcy Ribeiro, Barbosa Lima Sobrinho, Eder Sader, Ênio
Silveira, Nilo Silveira, Marco-Aurélio Garcia e Muniz Bandeira, e o fotógrafo
Sebastião Salgado. A crônica que mais me emocionou foi a que faz referência ao
assassinato de Soledad Barret, hoje esquecida na História.
Araken Vaz Galvão reside em Valença, Bahia e em 1956, aos 20 anos de idade, já era sargento do exército. No Governo
Jango foi um dos líderes do Movimento dos Sargentos, utilizado pelos militares
do golpe como pretexto para denunciar a indisciplina e a quebra de
hierarquia. Com a tomada do poder em 1964, Araken desertou, foi expulso do
exército como subversivo e passou a atuar na clandestinidade. Daí, para a luta
armada foi um pulo, Da luta armada teve como conseqüência, as prisões. Passou a viver na clandestinidade e nela
começou a conspirar para derrubar a ditadura. Preso em Porto Alegre, permaneceu
quase um ano na prisão e ao sair, foi para o Uruguai. Voltou e ajudou a
organizar a Guerrilha do Caparaó, sendo novamente preso, depois de uma
peregrinação por diversas prisões de, fugiu e asilou-se na Embaixada do
Uruguai, então no Rio de Janeiro. Araken empreendeu uma das raras fugas da Fortaleza de Santa Cruz, em
Niterói, para onde fora transferido, atendendo a um pedido próprio, a fim de
cumprir os 13 anos de prisão a que fora condenado. O ex-sargento, que sonhava
ser advogado e não escritor foi o segundo a conseguir fugir por conta própria.
Escoltado por um sargento como ele, para fazer exames numa Policlínica do Rio
de Janeiro, o preso pediu para ir ao sanitário, aproveitou um cochilo da
vigilância e ganhou as ruas e a liberdade.
Essas são algumas das aventuras reais vividas por esse personagem de
suas próprias histórias e que hoje aos 80 anos, também publicou livros, entre
eles: “Crônica de uma família sertaneja” (2004)
e “Saga de um menino do sertão “(2013)
“Ensaios ou Nada” (2014). É dele a antológica frase: “A ditadura não foi
derrubada, derrotou-se”.
“Crônicas das prisões e do exílio” é um livro que emociona do começo ao
fim e por isso, merece ser lido por muitos, principalmente por alguns imbecis
que nasceram após a ditadura e hoje pedem a sua volta, pelas esquinas da vida.
Contatos: arakenvaz@gmail.com – funcea.arakenvaz@gmail.com Para conhecer mais do trabalho do autor, acesse www.arakenvaz.blogspot.com