quarta-feira, 17 de agosto de 2011



Na minha concepção, os artistas passam por três fases básicas: a primeira são a dos iniciantes, que são humildes, simples, humanos; a segunda é a dos consagrados, que na maioria das vezes, são um porre e a terceira é a dos que amadureceram e por isso, voltaram a humildade dos iniciantes. Eu particularmente, prefiro lidar com os artistas da primeira e da terceira fase.

Poema sem metáforas

Para Maiakovski

Um corpo inerte na calçada
vítima de bala perdida
ao redor da morte
pessoas desesperançadas
esperam um novo milagre
que lhes tragam algo novo

... e o poeta em sociedade
preocupa-se com o poema alheio...

a violência violenta as estruturas
humanas que habitam dentro
de cada um de nós
como se vivêssemos
num Vietnã metropolitano
em pleno século XXI

... e o poeta em sua toca
sonha com o seu próprio umbigo

pessoas dormem nas ruas
sem metas e sem destinos
suas camas são papelões
espalhados em desalinho
como animais quaisquer
num zoológico concreto

... e o poeta afinal
só quer ver
sua foto num jornal!

Rogério Salgado
(In “Poemas” – Belô Poético-2010)

11 comentários:

inezalves disse...

"Ser poeta" , Rogério
é ter alma de vagabundo
descompromissada dos aplausos
da vida mas, agradecida pelo
brilho da lua...
Assim que nem você !!! bjs inez

Unknown disse...

Talvez...passem por isso...
e a vida flutua além dos fatos aparentes.

Izabel Cristina disse...

Concordo contigo! Cada poeta tem sua linguagem e cada experiência artística também... Ser artista e/ou poeta passa por respeitar o fazer a arte de cada um.

Kedma O'liver disse...

olá amigo, seu poetar descreve o que tenho sentido...grande desilusão com as pessoas que se empenham em te usar para conseguir chegar a algum momento de "foto no jornal" e esquecem que o foco do nosso sentimento é o ser humano com melhores condições.
Continue sempre assim Rogério, com alma poética
abraços a ti e a Virgilene

sogueira disse...

É verdade e confiro esta realidade de perto .Estou em comunhão com os primeiros e últimos. Abs.

Renato de Mattos Motta disse...

pois é...
eu te diria que há dois tipos de artista:
aqueles que tem um compromisso com a verdade e aquilo que urge na sociedade em que vive ou
aqueles do tipo cortesão, que criam ao gosto dos poderosos e fazem quastão de permanecer à sua sombra para melhor juntar as sobras de seus banquetes.
Sobre isso, escrevi ano passado um poema que conversa de alguma forma com esse teu.
Dá uma olhada:
http://remamo.blogspot.com/2010/06/voz-da-memoria.html
Abraço!

Márcia Araújo disse...

Sabe Rogério...São estes que valem a pena termos em nosso convívio...Que bom que você é ROGÉRIO SALGADO!!! E eu tenho o privilégio de conviver com você.
bjx

Confraria da Leitura disse...

É isso aí, Rogério. Excelente poema. Como poetas nos resta tecer com metáforas a rota da verdade. Pinheiro Neto LM.

Izabel Cristina disse...

Pois é, Rogério, agora que vou pulicar meu livro com os recursos da Lei de Incentivo à Cultura daqui, uma das coisas que estão mais me preocupando é como me manter neste estado de liberdade do poeta! Vc. precisa ver as cutucadinhas que estou levando só por conta de ter deixado de ser anônima! Abraços. Izabel

Neumar Monteiro disse...

Neumar Monteiro:
Você é um poeta especial porque sabe transcrever a vida como é e, não, um engano metafórico. Aposto no seu talento, no seu empenho e na sua Arte; cada poema uma lição de amor para um mundo vazio de si mesmo; quase somos sonâmbulos ambientais. Parabéns por você ser você: textualmente e integralmente.
09 de setembro de 2011 - 21:30

Izabel Cristina disse...

Caro Rogério: A primeira vez que ouvi Janis, embora eu ainda não entendesse nada de inglês, me pareceu que ela cantava as minhas dores de adolescente... Podem fazer milhões de festivais de rock mas nada serah como em Woodstock!