Há 30 anos, em março de 1983 surgia o
primeiro exemplar da Revista Arte Quintal na capital mineira, revista esta que
ficaria na história da cultura nacional.
Quando minha mãe, a pianista Glória
Salgado veio a falecer em 1980, eu vim parar em Belo Horizonte. Aqui comecei a
me inturmar com a rapaziada da poesia que ficava na Praça Sete. Lá, sempre nos
encontrávamos eu, Wilson Coelho, Isaias do Maranhão, Juleba, Evaldo Martins e
outros. Alí falávamos de poesia quase uma tarde inteira.
Foi quando através de um amigo do meu irmão Paulo, que trabalhava com ele e
escrevia poemas, conheci os poetas Anselmo Guimarães e Ruy Barreto que editavam
a revista Recanto. Era o ano de 1982 e isso me motivou para que lançasse minha própria revista.
Em 1982 lancei meu primeiro livro Tontinho em edição independente. Na
época, eu morava no bairro Planalto e havia conhecido Ecivaldo John, que hoje
reside nos Estados Unidos da América e ele havia topado essa aventura. Depois
conhecemos Virginia Reis, que atualmente exerce a medicina e fomos para as
esquinas fazer pedágios pedindo ajuda, dando em troca um poema. Fizemos também
rifas e por fim, conseguimos alguns poucos anúncios. A revista saiu dia 13 de
março de 1983 e tomou seu próprio rumo. Neste mesmo ano conheci o poeta Wagner
Torres na Praça Sete, que seria uma pessoa importante para o processo da
revista, tornando-se até hoje, meu melhor e o único fiel amigo amigo. Nessa época estávamos
desistindo de continuar e foi ele quem nos incentivou para que seguíssemos em
frente, incorporando-se assim, ao time de editores da revista. Aos poucos a
revista foi ficando conhecida em todo o país e até no exterior, numa época em
ainda não havia internet. Tínhamos uma estratégia na revista: colocávamos uma
entrevista com alguém de renome com chamada na capa e por dentro, tipo Paulinho
Pedra Azul, Fernando Brant, Oswaldo França Júnior e acrescentávamos também vários artistas
iniciantes e desconhecidos, dando uma força para aquela rapaziada.
Em 1983, no ano de sua criação,
Ecivaldo John resolveu pular fora do barco e buscar seu sonho de morar na
América do Norte. A revista continuou comigo, Virginia e Wagner Torres.
Em 1984 a Arte Quintal tornou-se
editora e passamos a publicar livros. Um fato era certo: na década de 80, todo
escritor que vinha de outro estado e passava pela capital mineira, fazia uma
visitinha a três lugares sagrados para eles: o jornal Estado de Minas, o
Suplemento Literário de Minas Gerais e a Revista Arte-Quintal.
Em 1985 aconteceu o 1º EPC – Encontro
Popular de Cultura, Encontro esse que surgiu de um papo na Praça Sete entre
Virginia Reis, Isaias do Maranhão e o jornalista Jorge Fernando dos Santos e
que foi parar dentro da Arte Quintal, no qual convocamos vários seguimentos
artísticos para incorporar ao movimento e que veio a acontecer sua primeira
edição em 1985. Em 1986, já na organização do 2º EPC, Virginia Reis numa ida ao
banheiro, voltou desesperada, pois tinha visto uma turma – a qual não citarei
nomes por motivos éticos – articulando uma maracutaia para que fossem votados
para a diretoria do referido evento. Daí que ela decidiu pular fora do meio
artístico e seguir a medicina, que segundo ela, era um meio mais honesto de se
viver.
E a revista\Editora continuou comigo e
Wagner Torres por um longo caminho, até que
em 1992, quando veio o Plano Collor
começamos a passar dificuldades. Vários artistas mineiros fizeram shows
e lançamentos de livros pra tentar reerguer a editora, mas foi muito difícil e
fechamos as portas, restando apenas o que deixamos para a história da cultura
mineira e nacional. Mas dessa história ficou um lema criado pela cabeça
criativa do poeta Wagner Torres: “Ler é o
caminho.”
Foto ilustrativa: Da
esquerda pra direita: Ecivaldo John, escritora Eliane Maciel, Wagner Torres e
Rogério Salgado, na Feira do Livro da Praça Sete\1983. Ao fundo, Marcelo Rubens
Paiva.
3 comentários:
parabéns pelo texto e pela preservação da memória literária de minas, através dessa arte quintal que possibilitou muitas travessuras e travessias! abs caio j. maciel
Bom tempo, aquele! Tive a oportunidade de publicar dois livros com essa turma da "Arte Quintal". Parabéns, Poeta Rogério Salgado, pela preservação de nossa história viva.
Vale o que ficou ! tua luta e dos teus companheiros foi semeadura. isso mesmo: parabéns pela preservação cultural. Abração
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