quarta-feira, 4 de maio de 2016

CARNE DE UMBIGO: DE MARIA REZENDE


Por Rogério Salgado

Dona de uma poesia visceral, porém de excelente qualidade literária e estética, Maria Rezende em seu Carne de umbigo (Edição da Autora) escreve como quem dialoga com o leitor, numa conversa íntima numa mesa de bar. Sua poesia é simples e aí é que está o grande desafio: escrever para ser entendida com facilidade, sem cair no simplesco ou lugar comum. E justamente por não obedecer a regras, sua poesia é livre de cercas, contratos de risco e burocracias (incluindo censuras), atingindo o leitor em cheio, encantando-o com sua delicadeza às vezes agressiva.
A poesia de Maria Rezende não imita ninguém, é autêntica e fala por si mesma, com a sinceridade que vem impregnada em seus versos. É uma poesia que dá a cara a tapa, expondo sentimentos, com a palavra enxuta na medida certa.
Vejamos: “A lua na janela\como uma injustiça\como um rapto\A lua na janela do quarto\em noite de nudez sem platéia\A lua cheia\barriga branca da baleia\peixe no aquário do sistema solar\A lua espelho\morta\sem luz própria\Na janela do quarto\contra o céu cor de petróleo\Braços se agitam\pés se contorcem\doem cabeças\corações\No Hemisfério Sul\na exata latitude de um abraço\tiro com suor alheio o preto dos olhos\Ela congela\eu incendeio\Eu nua na janela\A lua na cama entre os lençóis"
Maria Rezende em seus versos, fala de amor sem ser repetitiva, como quando diz: “(...)\Quando eu te vi você virou um tubarão\eu fui areia\fui espuma\imensidão\Eu elefante\você todas as formigas\eu gata branca\você tigre\escorpião\Eram seis listras num azul de fim de tarde\tinha uma luz inesperada sobre mim\Quando eu te vi o que era dentro virou fora\uma janela apareceu quando eu te vi”
Em meu livro Quermesses (e outros poemas profanos) (Belô Poético-2005), eu já dizia: “Palavras, o que são palavras\senão apenas sons emitidos pela boca\que se dependessem da moralidade\algumas seriam apenas\sons omitidos pela boca.” E isso se confirma quando Sebastião Nunes publicou Elogio a punheta e foi crucificado em pleno século XX e agora o poema “Malaysian Airlines”, o melhor deste Carne de umbigo, porque seria impublicável num jornal da capital mineira (quiçá, qualquer jornal), por causa de censuras da nossa tradicional família mineira (novamente, quiçá, brasileira) a palavras segundo a qual, seriam impublicáveis. Mas fica a curiosidade de quem queira ler impresso nas páginas do livro.
Com mais de dez anos de estrada literária, Maria Rezende é poeta, carioca, atriz, montadora de cinema e TV. Cozinha banquetes para pequenas multidões pedala uma bicicleta florida, dança sem música em dias nublados, é a medrosa mais corajosa que conhece e escreve muito, muito bem mesmo. E publicou três livros, incluindo este Carne de umbigo.
Publicado de forma independente, Carne de umbigo é um livro que mexe com a sensibilidade do leitor, até mesmo aquele que não curte muito poesia se encantará com a poesia de Maria Rezende. E quem diz que “Se a vida te der um presente\aproveita\Ela tem me dado vários\entre porradas e passos de dança\eu mastigo tudo em movimentos concêntricos\depois bebo chá verde pra digerir\(...) merece ser lida, relida, comida e mastigada com todo o respeito que os verdadeiros poetas merecem. Esse eu indico.

Contato: e-mail: mariadapoesia@yahoo.com.br – facebook.com: mariadapoesia 

2 comentários:

Liber Folium disse...

Belo comentário. Fiquei com vontade de ler o livro.

Ivone disse...

BELEZA....É TEMPO DE PAZ COM http://novafaseracional.com.br