Quem são os heróis do presidente eleito em 2018?
Carlos Alberto Brilhante Ustra foi um coronel do Exército Brasileiro, ex-chefe do DOI-CODI do II Exército (de 1970 a 1974), um dos órgãos atuantes
na repressão política, durante o período da ditadura militar no Brasil (1964-1985) e único torturador oficialmente
condenado pelos seus crimes. Também era conhecido pelo codinome Dr.
Tibiriçá. Foi através deste assassino que alguém que conheci um dia e que
cometeu o erro de paquerar um comunista, sem saber que o mesmo era disso, e por
isso perdeu a virgindade num pau de arara aos 17 anos, quando ainda era menor
de idade. Em 2008, Ustra tornou-se o primeiro militar condenado pela Justiça
Brasileira pela
prática de tortura durante a ditadura. Embora reformado,
continuou politicamente ativo nos clubes militares, na defesa da ditadura militar e nas
críticas anticomunistas. Ele escreveu dois livros de memórias: “Rompendo o Silêncio”
(1987) e “A
Verdade Sufocada” (2006), sendo este último, livro de cabeceira do presidente eleito
em 2018. Mas o que me choca são religiosos de várias tendências cristãs, que
pregam amor ao próximo e a caridade acima de tudo e falam em nome de Jesus,
terem votado e até hoje defenderem esse cidadão, que num gesto de sadismo,
dedicou seu voto no dia do impeachment de Dilma Rousseff, a este coronel, que a
torturou no tempo da ditadura. Pergunto: isso é um gesto cristão? Voto por voto, por que não
elegeram outro candidato de algum partido cristão ou que fosse evangélico, pelo
menos? (e olha que tinha). O torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra faleceu
dia 15 de outubro de 2015.
Do mesmo modo, o presidente eleito em 2018 recebeu em Brasília dia 4 de maio
último, com honras e pompas de herói nacional, Sebastião Rodrigues de Moura, o Major Curió,
de 84 anos. O oficial do exército comandou a repressão à Guerrilha do Araguaia,
no Pará, no final da década de 1960 e início da década de 1970. O militar
passou para a reserva como coronel e foi denunciado pelo Ministério Público
Federal por tortura, homicídio e ocultação de cadáver, chegando a confessar
participação em diversos assassinatos. Apesar das graves acusações de tortura,
Curió conseguiu construir uma imagem controversa como "líder
carismático" no Pará. O militar foi um dos fundadores de Curionópolis,
cidade que recebeu o nome em sua homenagem. O município, onde se localiza o
distrito de Serra Pelada, teve Curió como prefeito por dois mandatos
(2001-2008). As torturas utilizadas pelo Major Curió seguiam um sádico manual
elaborado pelo Centro de Informações do Exército (CIE), intitulado
“Contraguerrilha na Selva”. Segundo o documento, no ato da prisão, o
guerrilheiro era obrigatoriamente interrogado e, nesse momento, era também
espancado, furado com baionetas e até arrastado pela mata. Depois, era
conduzido a uma base distrital para outro interrogatório, em que era novamente
torturado e até morto. Depois, seu corpo era enterrado clandestinamente.
Localizada em Marabá, no sudeste do Pará, no quilômetro um da rodovia Transamazônica,
a Casa Azul era um centro de prisão clandestino utilizado pelo Centro de
Informações do Exército (CIE) como um Centro de Informações e Triagem (CIT).
Segundo a CNV, acredita-se que morreram mais de 30 guerrilheiros no local em
decorrência de tortura ou por execução fria e crua. Moradores locais acusados de apoiar a
guerrilha também sofriam torturas. Em depoimento à Comissão Nacional da
Verdade, em audiência pública em Marabá, em 2014, Abel Honorato conta que foi
detido e encaminhado para a Casa Azul em 1972, sob a acusação de ser amigo de
Oswaldão, um militante temido e procurado pelo Exército na região. No
local, ele foi torturado e, quando foi solto, seu estado físico era grave. “Lá me bateram com vontade. Me retiraram
daqui (de Marabá) semimorto. Saí vestido numa saia, pois não podia botar uma
calça”. Depois que foi liberado, o homem conta que foi obrigado a
servir de mateiro para as Forças Armadas. "Disseram
pra mim: 'Você vai agora voltar e vai ter que dar conta dos seus companheiros'.
Fui obrigado a trabalhar de guia até depois da guerra, sob os olhos de Curió.
Até em Serra Pelada [garimpo dirigido por Curió na década de 1980], fiz missões
para ele. Tem 40 anos dessa guerra, mas pra mim é um desgosto. Fui muito
judiado, fui muito acabado. Até hoje eu não sou ninguém. [...] Eu tive de
contar até o que não sabia para escapar. Eu tive que dizer, forçado, que não
fui um amigo do Oswaldão, mas hoje eu posso dizer, de verdade, que fui amigo
dele, pois ele foi amigo da região, ajudou muita gente", conta.
Para quem pensa que os militares foram ao Araguaia salvar o Brasil,
desconhecem que a grande maioria ao chegar neste lugar, assassinou pobres
proprietários de terras e tomou essas terras para seu espólio pessoal. E para
quem diz que na ditadura não houve corrupção, pesquisem Coroa Brastel,
Transamazônica e a Ponte Rio Niterói entre outros tantos assuntos, que rolavam
por debaixo dos panos, mas que a censura abafava e proibia os brasileiros de
ficarem sabendo que a corrupção corria solta.
Posso até ter cometido algum erro em ter votado no
PT para a presidência e faço hoje uma auto-critica, mas posso dormir com a
consciência leve e morrer sem culpas de um dia na vida, ter votado e elegido um
presidente que tem como ídolos, ex torturadores e assassinos. Sou um ser humano
cheio de defeitos e busco no dia a dia aproximar-me cada vez mais do que é ser
cristão, por isso digo com toda convicção: na dúvida, anularia meu voto para
não votar em simpatizante de carrascos.
Apenas a título de informação: nosso governante em seu discurso no
último 7 de setembro, voltou a elogiar o golpe militar de 1964, que
instaurou uma ditadura de 21 anos no País. Como se pode constatar: a democracia vê-se de novo ameaçada. Fiquemos
de olhos bem abertos.
Termino aqui com um poema do meu novo livro “Volúvel Fado”, ainda a ser lançado, no qual comemoro 45 anos de carreira. Nele expresso o que sinto nas entrelinhas desse governo. E para quem elogiar ou criticar o que expresso aqui, deixo claro que não tenho intenção de responder, pois amante da democracia acima de tudo, respeitarei as opiniões diversas a respeito.
CINEMA
TRANSCENDENDAL
(ROTA BRASIL 2019/2022)
Apertem o
cinto:
a
democracia sumiu!
(Rogério Salgado)
OBS: foto ilustrativa do Cel. Brilhante Ustra, internet; foto do encontro do presidente com o Major Curió, reprodução Facebook.
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