Estando
na Semana da Criança, deixo aqui cinco poemas extraídos de meu livro “Ainda
Menino”, (Belô Poético-2002-edição esgotada). Este é um dos livros que mais
gostei de ter publicado, justamente porque ao me propor voltar a minha infância,
a poesia me procurou com naturalidade, as imagens de minha infância surgiram
como numa volta ao tempo e o resto, é apenas um livro publicado.
Também
deixo aqui duas fotos: eu com sete anos de idade, próximo a fazer a primeira
comunhão e eu aos dezoito anos, ao lado de minha mãe, a pianista Glória
Salgado.
AINDA
MENINO
Ainda
menino
acreditada
ser o céu
um
toldo circense
e
a lua à noite
o
abajur que iluminava
este
mundo que era lindo.
As
estrelas eram enfeites
que
cobriam meus sonhos infantis
pirilampos
talvez, vaga-lumes.
A
matemática não passava
de
duas mais duas bolinhas de gude
e
a bandeira não era nacional
nada
mais era do que
galhos
de plantas secas
numa
brincadeira de pique.
Eu
era feliz na inocência
porque
era ainda menino.
A
barba hoje marca esse rosto
os
cabelos enevaram-se
e
os olhos lacrimejaram
e
o que era ainda menino
amadureceu
na rudeza da vida.
Hoje
não sou lá assim
tão
feliz
deixei
de sonhar feito criança
para
ser homem adulto
que
apesar dos açoites cotidianos
não
deixará de ser jamais
ainda
menino.
INFÂNCIA
Quando
garoto
Em
todos os natais, Irene
-
babá da minha infância –
presenteava-me
com um cartão
bem
bonito.
E
os meses se passavam
um,
dois, três... doze
e
este menino aguardava ansioso
pelo
melhor presente
que
nada mais era
que
meras palavras escritas
pela
minha babá, Irene.
Havia
o ano novo
dia
de aniversário
dia
das crianças
mas
nenhum dia era assim
tão
esperado
como
o dia de Natal.
Irene
não escrevera
naquele
ano.
Dias
depois soube
Que
Irene falecera
Por
causa d`uma diabete.
Bem
que eu dissera:
Como
era doce a minha Irene!
NO
TEMPO DO TEMPO DO TEMPO...
Houve
um tempo
em
que ouvia
Ave
Maria.
Minha
mãe ao piano
seus
dedos leves
de
fada
percorriam
teclas
como
quem percorre caminhos
-
Naquele tempo eu era feliz
pois
tinha dentro de casa
a
melhor orquestra do mundo.
Hoje
ao
som de um toca-discos
ouço
a mesma canção
que
me parece estranha
sem
graça
sem
ritmo...
Não
ouço mais...
não
mais permito que desentoem
meus
sentimentos de criança!
FOTOGRAFIA
NA PAREDE
Dolorido
é saber
que
as lembranças voltam:
o
tempo não!
AINDA,
MENINO
(TENTATIVA
DE COMPOR UM HAI CAI)
Cresci,
sim
mas
a infância esqueceu
de crescer dentro de mim.
4 comentários:
que beleza,rogério
abraços ,ivone vebber
veja no google:
-vone333
- olharxver
- divulgando ascensao
Amei ver a segunda foto que eu ainda não tinha visto...
O tempo passa mas não modifica um olhar...
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