quinta-feira, 8 de novembro de 2018

“Braço de rio, pedaço de mar” de Petrônio Souza Gonçalves


Por Rogério Salgado

Gosto da poesia de Petrônio Souza Gonçalves desde “Um facho de sol como cachecol” (Realejo Livros e Edições-2015), primeiro livro de sua autoria a cair nas minhas mãos. Gosto porque sua poesia é uma poesia honesta, sincera e não dessas que são feitas a medida de régua, como se fosse um tratado de palavras. Sua poesia não é uma poesia preocupada com formas e estéticas, mas sim, preocupada com o sentimento do autor, que antes de ser poeta, é um ser humano. A técnica em sua poesia é resultado secundário em seus versos. Vi muito disso em Manuel Bandeira. Recebo agora “Braço de rio, pedaço de mar” (Realejo Edições-2018) que me encantou do inicio ao fim.
Vejamos seus versos: “Agora sei,\é tarde,\o que posso fazer?!\Nada mais tenho em você,\só lembranças\de sua doce presença,\lua em minha noite estrelada,\me mostrando as belezas do caminho.\Era tudo assim como um poema,\amor de macho e fêmea,\calmaria de riacho,\beleza de flores na janela.\meu cacho,\cidade prometida,\coisa boa dessa vida é passageira,\hoje é domingo,\amanhã,\segunda-feira.”
“Braço de rio, pedaço de mar” traz aquele sentimento de que a poesia, a verdadeira extraída da alma, ainda existe, apesar desses tempos imediatistas em que as redes sociais mentirosamente aproximam as pessoas, quando na verdade as mantém distantes e nesses tempos frios em que o melhor poeta é o que mais trabalha palavras do que sentimentos. Prova disso são os versos sensíveis de Petrônio Souza Gonçalves, quando nos diz: “Tudo cabe no poema.\Até nossas dores menores,\amores maiores.\O poema comporta tudo,\porque ele é sem fronteira,\entra dentro da gente\e vai,\silenciosamente,\poeticamente, a vida inteira.”
Petrônio Souza Gonçalves é jornalista, escritor e poeta. Publicou entre outros livros: “José Aparecido de Oliveira – O melhor mineiro do mundo”, É um dos autores do livro “AI-5” (Baroni Edições-2016) em co-autoria comigo, Bilá Bernardes, Helenice Maria Reis Rocha e Irineu Baroni. E é neste “AI-5” que li um dos mais belos poemas escritos por um poeta que tem sensibilidade de perceber a sua volta, além do seu umbigo, poema este escrito para o pequeno Aylan Kurdi, encontrado morto dia 02\09\2015, na praia da Turquia, após naufrágio da embarcação em que fugia da cidade Síria de Kobane, republicado neste “Braço de rio, pedaço de mar” e que nos diz: “Depois de morto\- somente depois de morto -\o pobre menino refugiado\ganhou o abraço,\o colo,\o afago\e a solidariedade da humanidade.”
“Braço de rio, pedaço de mar” tem projeto gráfico de Ronei Luiz, capa de Paulo Caruso, prefácio de Aldir Blanc.
E quem nos diz que: “O bom da vida\é repartir o pão\que a gente não tem,\a cada dia.” merece sim, nosso respeito, por antes de ser poeta, ser um Ser Humano.


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