terça-feira, 12 de novembro de 2019

“Exercícios de Partida (Metáfora Clandestina)” de Rogério Zola Santiago



Antes de ser o poeta, escritor e jornalista que é, Rogério Zola Santiago é, antes de tudo, um grande ser humano. Se hoje o escritor alternativo tem algum espaço em eventos mineiros, antes só aberto aos convidados consagrados, tais como a FLI-BH, deve-se a luta desse cara quando eleito Conselheiro Municipal de Cultura, no qual eu, que nunca havia saído de casa para votar em alguém, por não acreditar neste sistema, depois de dez anos realizando na capital mineira, o Belô Poético – Encontro Nacional de Poesia, evento este de reconhecimento internacional, sem apoio de nenhum órgão público, compareci a eleição dos conselheiros e votei nele. Foi a única vez que votei em Conselheiros Municipais de Cultura.
Agora Rogério Zola Santiago lança “Exercícios de Partida (Metáfora Clandestina)” (Páginas Editora). A obra, que traz um diálogo de diferentes linguagens e referências, apresenta diversos olhares sobre a morte e a vida. A meu ver, uma colcha de retalhos muito bem escrita, muito bem estruturada literariamente, trabalho esse que, segundo o autor, teve 30 anos de maturação e revisão. Em suas nuances, o autor consegue realizar uma inovação de linguagem, mas com a responsabilidade da licença poética a seu favor, numa obra envolvente, feita de memórias afetivas como sua matéria-prima. O livro com traduções em inglês de Lloyd Schwartz, ganhador do prêmio Pulitzer de Crítica, conta com fotografias e reproduções de obras de arte de artistas como Angela Geo, Ana Amélia Diniz Camargos, Enezila Campos, Eymard Brandão, Giuletta Santino, Inimá de Paula, Joana Scharlé de Vasconcelos, Márcio Zola Santiago e Yara Tupinambá, que dialogam com as memórias do autor. As fotos antigas estão emolduradas no livro, pela arte de Angela Geo.
Rogério Zola Santiago é Mestre em Comunicação (Jornalismo e TV) pela Indiana Univesity (EUA), crítico de arte, professor universitário, e autor de outras obras, como “Draga”, “Fragatas e Silêncios”, “Terra Brasilis” e “Tudo sobre a Falta de Educação”.
Segundo o autor em material de divulgação do livro: “Iniciei o livro em 1986, quando escrevi uma série de poemas em cima de um livro do João Cabral de Melo Neto. Há quarenta e três anos elaboro este lançamento. E parece que Deus perpetrou que eu passasse por perdas relevantes de entes queridos. Transformei as emoções dessas avarias em poesia, daí meus (nossos) “Exercícios de Partida.  (...)”
Alguns críticos, na parte "Diálogos", opinaram que a obra possui um aspecto didático, pois os poemas são acompanhados dos comentários a seu respeito.
Créditos das fotos: Juliano Moraes, Rogério Zola Santiago, Danilo Oliveira, Valdez Maranhão, Anna Castelo Branco e Ilana Lansky.
“O livro é pautado em fatos profundos retratando, entre outras, a história narrada pela professora da UFMG, Ione Grossi, torturada na ditadura. Assim como o assassinato da famosa modelo Ana Paulina, nos anos 70, que morava ao lado de nossa casa em um prédio que foi invadido pelos militares. Não têm como falar que não existiu ditadura. Perguntam como transformo estes fatos em poesia, mas, consegui. Minha poesia é prosa ritmada, mas prosa também pode ser poesia e, dessa forma, ocasionamos inovações. (...)”
“Exercícios de Partida (Metáfora Clandestina)” é um livro envolvente do inicio ao fim. Recomendo, com toda certeza.

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