Antes de ser o poeta, escritor e jornalista que é, Rogério Zola Santiago
é, antes de tudo, um grande ser humano. Se hoje o escritor alternativo tem
algum espaço em eventos mineiros, antes só aberto aos convidados consagrados,
tais como a FLI-BH, deve-se a luta desse cara quando eleito Conselheiro
Municipal de Cultura, no qual eu, que nunca havia saído de casa para votar em
alguém, por não acreditar neste sistema, depois de dez anos realizando na
capital mineira, o Belô Poético – Encontro Nacional de Poesia, evento este de
reconhecimento internacional, sem apoio de nenhum órgão público, compareci a
eleição dos conselheiros e votei nele. Foi a única vez que votei em
Conselheiros Municipais de Cultura.
Agora Rogério Zola Santiago lança “Exercícios de Partida (Metáfora
Clandestina)” (Páginas Editora). A obra, que traz um diálogo de diferentes linguagens
e referências, apresenta diversos olhares sobre a morte e a vida. A meu ver,
uma colcha de retalhos muito bem escrita, muito bem estruturada literariamente,
trabalho esse que, segundo o autor, teve 30 anos de maturação e revisão. Em
suas nuances, o autor consegue realizar uma inovação de linguagem, mas com a
responsabilidade da licença poética a seu favor, numa obra envolvente, feita de
memórias afetivas como sua matéria-prima. O livro com
traduções em inglês de Lloyd Schwartz, ganhador do prêmio Pulitzer de Crítica, conta com fotografias e reproduções de obras de
arte de artistas como Angela Geo, Ana Amélia Diniz Camargos, Enezila Campos,
Eymard Brandão, Giuletta Santino, Inimá de Paula, Joana Scharlé de Vasconcelos,
Márcio Zola Santiago e Yara Tupinambá, que dialogam com as
memórias do autor. As fotos antigas estão emolduradas no livro, pela arte de
Angela Geo.
Rogério Zola Santiago é Mestre em
Comunicação (Jornalismo e TV) pela Indiana Univesity (EUA), crítico de arte,
professor universitário, e autor de outras obras, como “Draga”, “Fragatas e
Silêncios”, “Terra Brasilis” e “Tudo sobre a Falta de Educação”.
Segundo o autor em
material de divulgação do livro: “Iniciei
o livro em 1986, quando escrevi uma série de poemas em cima de um livro do João
Cabral de Melo Neto. Há quarenta e três anos elaboro este lançamento. E parece
que Deus perpetrou que eu passasse por perdas relevantes de entes queridos.
Transformei as emoções dessas avarias em poesia, daí meus (nossos) “Exercícios
de Partida. (...)”
Alguns críticos, na
parte "Diálogos", opinaram que a obra possui um aspecto didático,
pois os poemas são acompanhados dos comentários a seu respeito.
Créditos das fotos:
Juliano Moraes, Rogério Zola Santiago, Danilo Oliveira, Valdez Maranhão, Anna
Castelo Branco e Ilana Lansky.
“O
livro é pautado em fatos profundos retratando, entre outras, a história narrada
pela professora da UFMG, Ione Grossi, torturada na ditadura. Assim como o
assassinato da famosa modelo Ana Paulina, nos anos 70, que morava ao lado de nossa
casa em um prédio que foi invadido pelos militares. Não têm como falar que não
existiu ditadura. Perguntam como transformo estes fatos em poesia, mas,
consegui. Minha poesia é prosa ritmada, mas prosa também pode ser poesia e,
dessa forma, ocasionamos inovações. (...)”
“Exercícios de Partida (Metáfora Clandestina)” é um livro envolvente do
inicio ao fim. Recomendo, com toda certeza.
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