Maldito, por ser autêntico e não se
vender a máquina musical, como o personagem da peça “Roda Viva” de Chico
Buarque de Holanda, Sérgio Sampaio caso fosse vivo, estaria com 72 anos, neste
2019 em que se comemora 25 anos de sua morte.
Talvez um dos cinco mais importantes
compositores brasileiros de todos os tempos, Sérgio Sampaio foi pouco
valorizado quando ainda estava entre nós.
Nascido na mesma cidade natal do Rei
Roberto Carlos, em Cachoeiro do Itapemirim\ES, em 13 de abril de 1947, Sérgio
Moraes Sampaio, filho do maestro da banda de música e fabricante de sapatos
Raul Gonçalves Sampaio (1900-1992) e da professora primária Maria de Lourdes de
Moraes (1916-1990), teve infância humilde, na casa nº 65, da Rua Moreira. Na
infância, ouvia no radinho de sua mãe, Nelson Gonçalves, Ademilde Fonseca e
outros.
Suas composições passam por vários
estilos musicais, indo do samba, choro, rock, blues e baladas. Em sua poética vêem-se
elementos de Kafka e Augusto dos Anjos, que lia e apreciava. No dizer do
cantor/compositor Lenine, Sérgio Sampaio foi um nome marginalizado que equipara
a Tim Maia e Raul Seixas, como um dos malditos da Música Popular Brasileira.
No final de 1967, foi com a cara e a
coragem para o Rio de Janeiro, tentar a vida como artista. Na cidade
maravilhosa conheceu Raul Seixas, então produtor musical da CBS, que sentiu seu
talento e lhe abriu as portas. Além de vários compactos simples e duplos, em
1971 participou de um disco revolucionário, ao lado de Raul, Edy Star e Miriam
Batucada, intitulado “Sociedade da Gran Ordem Karvenista apresenta sessão das
dez”, gravado quando os diretores da gravadora estavam viajando e retirado do
mercado após a volta dos mesmos.
Em 1972, Sérgio ganhou fama nacional
com a participação no Festival Internacional da Canção, com a marcha-rancho “Eu
quero é botar meu bloco na rua”. Neste mesmo ano lançou pela Phonogram, o LP
homônimo, que fez bastante sucesso. Em 1976 saiu pela Continental, seu segundo
LP “Tem que acontecer”. De temperamento forte e difícil, além de boêmio
inveterado, teve a portas fechadas pelas gravadoras, tornando-se mais um dos
chamados popularmente de “malditos”. Em 1981, enquanto Erasmo Carlos comentava
com amigos numa mesa de bar, sobre seu próximo disco cujo tema seria a mulher,
Sérgio, já bastante embriagado, ouvia atentamente tudo. Semanas depois, procurou Erasmo e
lhe apresentou uma nova composição intitulada “Feminino Coração de Deus”, uma
das mais belas pérolas da nossa MPB, que foi prontamente gravada por Erasmo em
seu disco.
Em 1982, financiado por amigos e pela
família, lançou independente o LP “Sinceramente”, que teve pouca vendagem e
boas críticas. Com a falta de perspectivas, ganhou a vida fazendo
esporádicos shows com a ajuda de amigos.
No começo de 1994, foi convidado pelo
selo independente Baratos Afins para gravar um disco de inéditas, o que o
deixou muito feliz. Mas às cinco horas da manhã do dia 15 de maio daquele ano,
veio a falecer por causa de uma pancreatite, devido à vida desregrada a álcool
em que vivia.
Em 1998 o compositor Sérgio Natureza
produziu o CD “Balaio do Sampaio” com participações do próprio cantando “Eu
quero é botar meu bloco na rua” e participações de Chico César, Erasmo Carlos,
João Bosco, Zeca Baleiro, Zizi Possi, Lenine, João Nogueira, Eduardo Dusek,
Renato Piau, Jards Macalé, Luiz Melodia e Elba Ramalho. Em 2005, Zeca Baleiro
produziu o CD póstumo “Cruel”, com músicas inéditas.
Considerado um dos maiores gênios
musicais da nossa MPB, Sérgio Sampaio está sendo redescoberto por quem aprecia
o melhor da música brasileira. No livro “Eu quero é botar meu bloco na rua -
biografia de Sérgio Sampaio” (Edições Muiraquitá-2000), escrito por Rodrigo
Moreira, hoje raridade, mas que poderá ser encontrado nos melhores sebos do
país. O escritor e jornalista Caio Fernando Abreu, numa crônica publicada em
24\07\1994 no jornal O Estado de São Paulo, definiu: “Sérgio era um
pós-tropicalista, uma espécie de elo entre Mutantes, Tom Zé, e o que de melhor
veio depois – Cazuza, Lobão, Ângela Rorô, Raul Seixas, que ele adorava, todos
sofreram sua influência. Gravou três ou quatro LPs malditos, era rebelde demais
para se sujeitar à caretice das gravadora. (...) Como Torquato Neto, é uma
figura perfeita para ser ressuscitada, mitificada e, claro, vendida. No além,
Sérgio vai rolar de rir...”
Hoje, Sérgio Sampaio é regravado por
cantores que buscam suas canções.
E nas comemorações de 25 anos de sua saída
deste mundo, nosso protagonista será fruto de um filme sobre ele pelo cineasta
Hugo Moura, que há cinco anos pesquisa material para o documentário “Sinceramente
Sérgio”, em alusão ao título do derradeiro disco do cantor, de 1982. A idéia é
que o próprio protagonista conduza a narrativa, com músicas e depoimentos
registrados em gravadores caseiros, que trazem reflexões existenciais,
políticas e até sobre o corpo do compositor: “A magreza dele é um fato que chocava as pessoas e, nessas fitas que
encontrei, ele comenta que era apenas uma questão de biótipo.” Comenta o
cineasta Moura. “Tem muita coisa da
década de 70 que vai surpreender os fãs. O Sérgio sempre foi um cara muito
independente, que ficou meio de canto na música brasileira.” Afirma Moura. “Ele não se dobrava as vontades comerciais
das gravadoras. Foi um cara meio cigano, que morou na casa de dezenas de
pessoas. Em 1974, ele ganhou o Troféu Imprensa de revelação do ano e, até hoje,
este troféu está num bar no Espírito Santo, porque ele deixou lá e nunca mais
voltou para buscar.” Completa o cineasta.
Hoje, quem toma conta do espólio de
Sérgio Sampaio é João Sampaio, filho único do compositor, fruto de sua relação
de cinco anos com a arquiteta Ângela Breitschaft.
E quem quiser conhecer mais a fundo à
genialidade de Sérgio Sampaio, é só buscar no yourtube o que há de melhor desse
cara.
Um comentário:
Bom lembrar da importância dele na cultura de nosso país... parabens pelo artigo
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