O mundo
perdeu no último mês de novembro de 2019, o Rabino Henry Sobel, um dos
defensores dos direitos humanos na Ditadura Militar Brasileira. Quando em 1975,
o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado nas dependências do DOI-CODI pelos
torturadores militares, os quais forjaram suicídio por enforcamento, Sobel não
aceitou a versão de suicídio e autorizou o sepultamento no Cemitério Israelita
do Butantã, seguindo os ritos judaicos (o jornalista era judeu) e não admitindo
que ele fosse sepultado na ala dos suicidas. Naqueles anos de falta de
liberdades, os torturadores sempre forjavam suicídio e acidentes para encobrir seus
assassinatos.
Um desses possíveis assassinatos teria sido o
cidadão brasileiro, José Boaventura Malheiro de Carvalho, que trabalhava
vendendo jóias e por isso viajava bastante. Segundo a esposa de José Boaventura, ele tinha
livros sobre Comunismo e Marxismo e era militante da esquerda, o que para
época, pode ter sido um indício do seu desaparecimento ocorrido em 1972. Foram
feitas pela família, várias tentativas para localizá-lo, inclusive uma viagem a
Portugal, sua terra Natal. A irmã de José, localizada em Portugal por
familiares, também não tinha notícias do seu paradeiro, o qual até os dias
atuais ainda é um profundo mistério.
Em pesquisa no Google, a família encontrou um
documento com uma ocorrência no DOPS em São Paulo, datado de 11 de maio de
1973, no qual diz que: “(...) faz saber
ao réu José Boaventura Malheiro de Carvalho, filho de Antonio José de Carvalho
e de Noêmia Malheiro da Luz C. da Silva, casado, branco, com 40 anos de idade,
residente a Rua Av. Presidente Vargas, 134, 2ª, Belém do Pará, pelo presente
edital com o prazo de quinze dias, que fica citado para comparecer no dia 28 de
maio de 1972, as 10 horas na sala n. 206 de audiências desse juízo, no Palácio
da Justiça, a Praça Clóvis Henrique, 2º andar, a fim de, sob pena de revelia,
ser interrogado sobre acusação que lhe é feita como incurso no artigo 168
parágrafo 1º - inc. III (...)” Coincidentemente, José Boaventura Malheiro
de Carvalho desapareceu misteriosamente em 1972, sem deixar possíveis
vestígios.
José Boaventura Malheiro de Carvalho é somente e apenas mais um desaparecido nos anos em que o Brasil viveu sem liberdades, sob censura até aos nossos pensamentos, nos quais uma simples suspeita era motivo para prisões, torturas e assassinatos (lembremos, por exemplo, do AI-5).
José Boaventura Malheiro de Carvalho é somente e apenas mais um desaparecido nos anos em que o Brasil viveu sem liberdades, sob censura até aos nossos pensamentos, nos quais uma simples suspeita era motivo para prisões, torturas e assassinatos (lembremos, por exemplo, do AI-5).
O que mais deve doer atualmente na alma dos familiares
de pessoas como José Boaventura Malheiro de Carvalho, é termos um governo que
elogia o que eles chamam de “Revolução de 64” e chamam assassinos e
torturadores, tais como o Coronel Brilhante Ustra, condenado por tortura em
seres humanos, de herói nacional. Algo me diz que vivemos hoje, numa democracia
camuflada. Fica então a pergunta: em qual oceano ou cemitério clandestino
podemos encontrar tantos desaparecidos, tais como José Boaventura Malheiro de
Carvalho, cuja família ainda espera poder dar um enterro digno e cristão ao que
lhe resta. Possivelmente essa será mais uma pergunta sem respostas.
Foto: Arquivo
da família
2 comentários:
Espero que um dia esse mistério seja revelado.
Como um pai de quatro filhos desaparece sem deixar vestígios? Por mais insensível que seja uma pessoa, se estivesse vivo, creio que em algum momento da vida teria nos procurado.
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