segunda-feira, 9 de março de 2020

“FRONTEIRAS EM LIQUIDAÇÃO” DE RICARDO ALFAYA



Alguns livros de poesia, confesso, dão-me sono ao lê-los. Veja a poesia, mesmo a mais elaborada em sua técnica apurada, como algo que tem de ser entendível a primeira leitura. Poemas que tenho de relê-los para entendê-los, são os mais prováveis os quais não voltarei a sua leitura. Por isso, tantos livros de poemas que recebo, dou-os a bibliotecas, na certeza de que não voltarei a relê-los. Guardo em minha estante apenas aqueles que me agradam, pela sua simplicidade em dizer o que o autor pretende que o leitor entenda. “Fronteiras em liquidação” (Dowslley Editora) de Ricardo Alfaya é um desses: publicado em 2016 é uma compilação de cinco livros, que são “Passeio Público”, “Sujeito a Objetos”, “Águas-Fortes”, “Feitiços de Vento” e “Fronteiras em Liquidação”, no qual o autor publicou poemas reescritos de livros anteriores e outros inéditos.
“Fronteiras em liquidação” é um livro de poemas da mais alta qualidade, escritos com a simplicidade que todo poeta que se preze e que queira alcançar seus leitores, deveriam ser, caso de Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, considerado poeta maior, porém entendido até pelo leitor que tem dificuldades em compreender poesia, como também nosso Manuel Bandeira. Para se ser um verdadeiro poeta é preciso ser simples, sem ser piegas e nisso Ricardo Alfaya acertou em cheio. Vejamos alguns versos: “Apenas duas letras,\que formam uma sílaba\tônica e agudo-crônica.\Pesada e angustiante,\dominadora e insolente.\Simplesmente,\Só.” ou mesmo neste poema profundamente humano: “Outro dia,\na Rua do Ouvidor,\queria tanto\alguém me ouvisse.”
“Fronteiras em liquidação” é um livro que se lê numa sentada só, com prazer de se ler poesia que mexe na alma do leitor, desses que ao alcançar a última página, bate aquela vontade de ler novamente. E quem diz: “Meu verso não tem sequer a força\para expulsar os vendilhões do templo.\Apenas vagueia à toa,\varrido pelos vendavais da rua.\Vencido, cansado de sono e cerveja.\Esbarra em portas,\resvala em palavras.\Procura visões, vestes, vozes.\E quem deseje cantar junto.\Meu verso,\pergunta a duvidar da morte.\Sombra sonâmbula,\que passeia despercebida pela vizinhança;\que desfila em meio à indiferença\das respeitáveis senhoras,\em suas idas matinais ao supermercado.”, merece ser lido e respeitado por todos, mesmo aqueles não muito chegados à poesia.
Ricardo Ingenito Alfaya nasceu no Rio de Janeiro em 8 de agosto de 1953. Seus primeiros textos publicados no final dos anos 70 foram resenhas para o órgão “Informativo”, da Fundação Getúlio Vargas, seguidos de artigos, alguns assinados, para o tablóide “Perspectiva Universitária”, da Fundação Mudes. Faz poesia visual, tendo participado de inúmeras exposições, no Brasil e no exterior, desde 1990. Além deste “Fronteiras em liquidação”, publicou quatro outros livros de poesia. Em sua carreira literária, obteve 36 prêmios literários.
“Fronteiras em liquidação”, livro que recebeu o “Prêmio Diretoria da UBE-RJ” em 2016, é um livro que estará sempre em destaque na minha estante, entre os melhores livros que pretendo reler e que com certeza, merece ser lido por todos aqueles que buscam poesia autêntica, numa época tão difícil de entender a própria vida.



Um comentário:

Ricardo Ingenito Alfaya disse...

Caro Rogério,

Agradeço a resenha da obra em seu blog. Farei uma chamada e divulgarei, ainda hoje, no Facebook. Mais adiante tenciono inseri-lo em meu site pessoal no Prosa & Verso, junto a alguns outros comentários que recebi sobre o livro. Um grande abc, Ricardo Alfaya.