Alguns livros de poesia,
confesso, dão-me sono ao lê-los. Veja a poesia, mesmo a mais elaborada em sua
técnica apurada, como algo que tem de ser entendível a primeira leitura. Poemas
que tenho de relê-los para entendê-los, são os mais prováveis os quais não
voltarei a sua leitura. Por isso, tantos livros de poemas que recebo, dou-os a
bibliotecas, na certeza de que não voltarei a relê-los. Guardo em minha estante
apenas aqueles que me agradam, pela sua simplicidade em dizer o que o autor
pretende que o leitor entenda. “Fronteiras em liquidação” (Dowslley Editora) de
Ricardo Alfaya é um desses: publicado em 2016 é uma compilação de cinco livros,
que são “Passeio Público”, “Sujeito a Objetos”, “Águas-Fortes”, “Feitiços de
Vento” e “Fronteiras em Liquidação”, no qual o autor publicou poemas reescritos
de livros anteriores e outros inéditos.
“Fronteiras em
liquidação” é um livro de poemas da mais alta qualidade, escritos com a
simplicidade que todo poeta que se preze e que queira alcançar seus leitores,
deveriam ser, caso de Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, considerado
poeta maior, porém entendido até pelo leitor que tem dificuldades em
compreender poesia, como também nosso Manuel Bandeira. Para se ser um
verdadeiro poeta é preciso ser simples, sem ser piegas e nisso Ricardo Alfaya
acertou em cheio. Vejamos alguns versos: “Apenas
duas letras,\que formam uma sílaba\tônica e agudo-crônica.\Pesada e
angustiante,\dominadora e insolente.\Simplesmente,\Só.” ou mesmo neste
poema profundamente humano: “Outro dia,\na
Rua do Ouvidor,\queria tanto\alguém me ouvisse.”
“Fronteiras em
liquidação” é um livro que se lê numa sentada só, com prazer de se ler poesia
que mexe na alma do leitor, desses que ao alcançar a última página, bate aquela
vontade de ler novamente. E quem diz: “Meu
verso não tem sequer a força\para expulsar os vendilhões do templo.\Apenas
vagueia à toa,\varrido pelos vendavais da rua.\Vencido, cansado de sono e
cerveja.\Esbarra em portas,\resvala em palavras.\Procura visões, vestes,
vozes.\E quem deseje cantar junto.\Meu verso,\pergunta a duvidar da
morte.\Sombra sonâmbula,\que passeia despercebida pela vizinhança;\que desfila
em meio à indiferença\das respeitáveis senhoras,\em suas idas matinais ao
supermercado.”, merece ser lido e respeitado por todos, mesmo aqueles não
muito chegados à poesia.
Ricardo Ingenito Alfaya
nasceu no Rio de Janeiro em 8 de agosto de 1953. Seus primeiros textos
publicados no final dos anos 70 foram resenhas para o órgão “Informativo”, da
Fundação Getúlio Vargas, seguidos de artigos, alguns assinados, para o tablóide
“Perspectiva Universitária”, da Fundação Mudes. Faz poesia visual, tendo
participado de inúmeras exposições, no Brasil e no exterior, desde 1990. Além
deste “Fronteiras em liquidação”, publicou quatro outros livros de poesia. Em
sua carreira literária, obteve 36 prêmios literários.
“Fronteiras em
liquidação”, livro que recebeu o “Prêmio Diretoria da UBE-RJ” em 2016, é um
livro que estará sempre em destaque na minha estante, entre os melhores livros
que pretendo reler e que com certeza, merece ser lido por todos aqueles que
buscam poesia autêntica, numa época tão difícil de entender a própria vida.
Um comentário:
Caro Rogério,
Agradeço a resenha da obra em seu blog. Farei uma chamada e divulgarei, ainda hoje, no Facebook. Mais adiante tenciono inseri-lo em meu site pessoal no Prosa & Verso, junto a alguns outros comentários que recebi sobre o livro. Um grande abc, Ricardo Alfaya.
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