Nos anos 70, eu e meu
parceiro musical íamos de carona participar de festivais de música pelo
interior do estado do Rio de Janeiro, com algumas incursões por Minas Gerais. E
ao sabor de um baseado e alguns chás de cogumelos (éramos jovens e se os
Beatles usavam, por que nós não usaríamos?) subíamos no palco e levávamos, na maioria das vezes, um
troféu para casa. Hoje, mais de quarenta 40 anos depois de tomar juízo e decidir
se tornar um careta a base de água mineral, recebo o livro “Caderno de
viagem”(Edições O Boêmio) de José Roberto Garbim e Eduardo Waack que, tomando Coca-Cola
seguiram rumo “Brasil, Argentina e Paraguai de carona” numa viagem
inesquecível, dessas que o leitor após a última página, sente inveja de não ter
sido o protagonista dessa história.
Essas
lembranças foram transportadas para as páginas de um livro, a partir do diário
de José Roberto Garbim e ao qual foram agregadas as memórias e observações de
Eduardo Waack), que narram à aventura de 25 dias de dois adolescentes
residentes em matão, interior paulista, prestes a alistar-se no serviço militar
obrigatório (do qual se safaram) e com a cara e a coragem, foram como Jack
Kerouac no clássico “On The Road”, correr estrada afora.
“O ano de 1981 de sonhos e planejamento. Em março, numa
noite regada à cerveja na Lanchonete Jandaia, ponto de encontro da juventude
matonense, entre o final dos anos 1970 e inicio dos anos
1980, combinamos de fazer uma viagem de carona pelo sul da América do Sul. O
projeto inicial previa Brasi, Uruguai, Argentina Chile e Paraguai, mas a
realidade nos permitiu fazer uma versão reduzida da planejada, envolvendo
Brasil, Argentina e Paraguai. (...)”
A
saga inicia-se em Matão, cidade na qual moravam (e ainda moram), passando por
Pato Branco, Eldorado, ambos estado do Paraná; indo direto para San Ignacio,
Posadas, na Argentina; Fernando de La Mora, Paraguai; voltando pelo Paraná via
Foz do Iguaçu, Pato Branco, Curitiba; chegando a capital paulista e encerrando
em Porto Feliz, ambos estado de São Paulo. Nessa aventura, ficando algumas
vezes em casa de amigos, também fizeram novos amigos.
Para
compreender a narrativa deste livro é preciso situar-se em seu momento
histórico: início dos anos 1980. A América Latina vivia sob o domínio do medo,
com ditaduras sufocando as instituições e suprimindo as garantias individuais.
Brasil, Argentina e Paraguai, apoiados pelos Estados Unidos, não eram exceções.
No Paraguai, o general Alfredo Stroessner instaurou em 1954 um regime marcado
pela brutal repressão popular. Em 1964, no Brasil, os militares depunham João
Goulart, tomando o poder, levando o nosso país a torturas e mortes de quem era
contra o regime. Na Argentina, um feroz golpe em 1976 fez surgir um regime
militar que causou a morte de milhares de pessoas, e o desaparecimento de
tantas outras. Era arriscado ser diferente e as pessoas tinham medo da própria
sombra. A democracia só voltaria ao nosso país, em tese, em 1984.
“Caderno de viagem” leva
o leitor a uma viagem divertida, onde os autores revelam encontro com amigos e
o inicio de novas amizades, difícil nos dias de hoje, com a violência não
velada como naquela época, mas escrachada aos extremos para quem quiser sentir
receio. É um livro que se lê numa sentada só e que nos faz sentir aquela
vontade de voltar à primeira página.
“Caderno de viagem” tem ilustração da capa por Fabrício Lima, apoio cultural de Garbeer
Cerveja Artesanal, empresa que merece destaque por acreditar na cultura e vem
ilustrado com fotos da viagem e poemas de Eduardo Waack e é um livro que nos
leva a viver junto aos autores, essa fantástica aventura. Vale ler e se
aventurar nas páginas desse livro, que eu recomendo.
Contato com os autores: jrgarbim@gmail.com e eduardowaack@gmail.com
3 comentários:
Kkkkk que aventura meu amigo Rogério Salgado! Esse livro deve ser muito bom! Um forte abraço.
A aventura juvenil rendeu histórias, memórias e um livro.
Um saldo positivo e devidamente registrado.
Gratidão, irmão querido! A vida é uma viagem maravilhosa repleta de aprendizados...
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